Luciana Constantino | Agência FAPESP – A presença de proteínas inflamatórias (citocinas) no sangue pode potencializar os efeitos do uso diário de maconha e aumentar em adultos o risco de desenvolver psicoses. Resultado semelhante foi observado, também na presença das citocinas, quando o consumo da droga ocorreu durante a adolescência, não necessariamente de forma diária. Distúrbios desse tipo envolvem sintomas como delírios, incluindo a perda do senso de realidade, e alucinações, como ouvir vozes, além de alterações cognitivas e prejuízos sociais.
A conclusão foi apresentada por um grupo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) em artigo publicado na revista Psychological Medicine.
Pela primeira vez, pesquisadores brasileiros detectaram que indivíduos expostos à combinação desses dois fatores – presença de citocinas inflamatórias no sangue e uso da maconha (seja diário ou durante a adolescência) – têm mais chances de desenvolver o transtorno quando comparado àqueles não expostos a nenhum deles ou apenas a um. Segundo os autores, trata-se da “primeira evidência clínica de que a desregulação imunológica modifica a associação maconha-psicose”.
O trabalho é parte de um projeto desenvolvido pelo consórcio internacional multicêntrico, o European Network of National Schizophrenia Networks Studying Gene-Environment Interactions (EU-GEI), que engloba 17 centros de seis países, inclusive o Brasil. Em 2019, o consórcio publicou artigo na revista The Lancet Psychiatry apontando que o uso diário de maconha aumenta, em média, em até três vezes o surgimento de psicose.