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Forbes Brasil

Indústria tem de mostrar força (1 notícias)

Publicado em 21 de maio de 2004

Por Por MARCELO DE VALÉCIO
Cláudio Vaz, 56 anos, é economista e atua na indústria desde 1970. Primeiro como executivo do grupo Arteb, fabricante de autopeças, no qual ficou por 12 anos até abrir a primeira empresa, a Metal Molde. Hoje, é sócio da Raco, especializada em componentes para ar-condicionado de veículos, e da Fiamm, fabricante de buzinas. Desde 1978 atua no Sindipeças, do qual foi presidente entre 1992 e 1994. Na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), foi diretor do departamento de economia e diretor executivo. Atualmente, dirige o departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos. Amparado em pesquisa realizada em fevereiro pela Fundação Getúlio Vargas, que lhe dá 43% das intenções de voto, contra 38% do candidato da oposição, acredita que obterá a vitória na briga pela presidência da instituição. Casado e pai de uma filha, este carioca estabelecido em São Paulo há 34 anos exibe estilo professoral ao defender conceitos econômicos e pragmatismo empresarial ao sugerir saídas para o crescimento do País, apresentadas nesta entrevista a Forbes Brasil. Rejeita o rótulo de workaholic, mas admite a paixão pelo trabalho e pela economia. Nas horas de folga, mergulha nos clássicos econômicos ao som de Bach, Paganini, Isaac Stern, Pink Floyd e clássicos da música brasileira como Paulinho da Viola, Cartola, Jacob do Bandolim ou Elizeth Cardoso. Qual será a marca de Cláudio Vaz à frente da Fiesp? A Fiesp se reposicionou, está mais moderna, propositiva, e se faz presente no Estado, no Congresso Nacional e no Executivo federal. Participei da reestruturação. Acredito que agora o sistema Fiesp/Ciesp deve dar passos mais largos, com consistência, desenvolvendo políticas efetivas de fortalecimento do setor industrial. E no campo político? Ofereceremos maior poder de pressão para alcançar mais participação à frente das grandes decisões da vida nacional. Vamos atuar também com os trabalhadores para, juntos, encontrarmos saídas criativas para o crescimento. Quais são essas alternativas? O ano começou com expectativas positivas. Há confiança de que o PIB crescerá ao redor de 4% neste ano. Tal cenário está baseado no crescimento das exportações, que vêm apresentando dinamismo maior do que as expectativas mais otimistas. Temos algumas propostas para a retomada do crescimento de forma sustentada, a taxas anuais superiores a 5%. Uma delas é a redução das taxas de juros. Não é possível crescer com juros reais superiores a 4% ao ano. A visão financista que impera é exagerada, o espaço para a queda é maior do que o realizado até agora. Mais alguma proposta? Outra medida é o aumento da oferta de crédito. Nos EUA, ela corresponde a 100% do PIB e no Japão atinge 120%. No Brasil, não passa de 25%. Precisamos de fontes alternativas de financiamento, como cooperativas de crédito, fundo de recebíveis e um vigoroso mercado de capitais. Fundamental também é a redução progressiva da carga tributária para abaixo dos 30%. O sistema tributário precisa ser simplificado, taxando preferencialmente a renda, o consumo e a propriedade. Como o País pode enfrentar o desemprego? São necessárias políticas ousadas de emprego e renda, que estimulem o desenvolvimento. O jovem deve ser preparado para as novas atividades que surgiram na esteira da evolução tecnológica. Muitas delas sem vínculos tradicionais, como carteira assinada. São atividades com maior valor agregado, ligadas à tecnologia. É o caso dos birôs, que congregam profissionais especializados e oferecem serviços altamente qualificados. A área editorial é bem ativa nisso. Já o emprego de massa não muda, o sistema tradicional continuará predominando. Algo que precisa ser estimulado é o empreendedorismo. Deveria ser uma matéria obrigatória na escola. Ainda hoje as pessoas se preparam para trabalhar para os outros. Para algumas dessas propostas basta decisão política, para outras há necessidade de recursos, que são escassos. A maior crítica que fazemos ao governo é a lentidão para decidir. Os recursos estão aí. No âmbito federal, existem fundos como o Fust, das telecomunicações, o PIS, o FGTS, a poupança e a CIDE, que foi criada para recuperar a malha rodoviária do País, mas que está sendo utilizada para fazer superávit. O setor da construção, principalmente a área de infra-estrutura, é importante gerador de empregos e estratégico para a retomada do desenvolvimento, pois responde rápido. Deve ser estimulado, principalmente nas áreas de saneamento, rodovias e logística. A renda resultante dessas ações estimulará um novo ciclo de desenvolvimento, com a conseqüente retomada do mercado interno. Como o Brasil está na área de inovação tecnológica? Precisa avançar. Investimos apenas 0,9% do PIB, contra 2,7% aplicados no Japão, 2,5% na Alemanha e nos EUA e 2,4% na França. No Brasil, existem três principais mecanismos de estímulo à pesquisa: o Fundo Verde-Amarelo e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finepe), no âmbito federal, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que absorve 1% do ICMS paulista. É preciso haver maior integração entre o setor industrial e as universidades, a pesquisa aplicada. Uma experiência muito bem sucedida é feita com a USP de São Carlos. A Unicamp também tem acordos desse tipo. É preciso investir em itens que vão desde a atuação em áreas de fronteiras, como a bio e a nanotecnologia até a pesquisa para nacionalização de produtos e novos processos. A CNI sugeriu a criação de um fundo específico para inovação no BNDES, o Proinova, destinado ao financiamento das atividades de pesquisa, que está sendo analisado pelo governo. De que forma a integração de mercados como a Alça pode ajudar o País? Comércio externo é compromisso. A Alca é um objetivo a ser atingido, mas com muita negociação, pois as economias no continente são muito diferentes. O Canadá e os EUA são sociedades do conhecimento. O Brasil não é ainda uma sociedade industrial madura. A Alca sem regras claras de acesso dos produtos brasileiros ao mercado americano não tem sentido, não existe. É importante não cessar o processo, mas não acredito em evolução rápida neste ano, por conta das eleições presidenciais nos EUA.