Nomeação do ex-reitor da Unicamp é bem recebida nas instâncias da universidade
A nomeação do ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Vogt para comandar a Secretaria de Ensino Superior do governo do Estado de São Paulo foi bem recebida em três instâncias da universidade sediada em Campinas. Ele substitui o médico e deputado federal licenciado José Aristodemo Pinotti (DEM), também ex-reitor da Unicamp, que ocupava a pasta desde o início da gestão de Serra, em janeiro passado. Pinotti estava desgastado no cargo desde o início, quando implantou a nova pasta, e por publicar um decreto, depois revogado, que embutia a perda de autonomia das três universidades públicas paulistas. Ele alegou motivos pessoais para a sua saída do governo estadual.
Procurado na tarde de ontem, Vogt disse que só falará sobre os seus planos na segunda-feira. O novo secretário ocupava desde 2002 a presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Nos bastidores é dada como certa a nomeação do atual vice-presidente do órgão e reitor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Marcos Macari, como o substituto de Vogt na fundação.
Todos os entrevistados para comentar a nomeação de Vogt para a pasta ressaltaram as qualidades do escolhido na área de gestão e sua visão acadêmica de investir na pesquisa e na qualidade do ensino como questões fundamentais para o bom desempenho das universidades públicas sob administração estadual: a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e ainda a própria Unicamp.
O reitor da Unicamp, e presidente do Conselho dos Reitores das Universidades Públicas Paulistas (Cruesp), José Tadeu Jorge, disse que "ao valor acadêmico e à experiência administrativa do professor Vogt se soma o fato de que ele participou das gestões para a implantação do projeto de autonomia das universidades estaduais paulistas, em 1989. Isto é um importante fator de tranqüilidade para a comunidade universitária e para a sociedade. Conta também seu vínculo com a Fapesp, instituição fundamental para as universidades e cuja cultura integradora tem sido essencial para aproximar o ensino da pesquisa e das conseqüentes atividades de extensão."
Para o vice-presidente da Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp), Mauro Dias da Silva, a troca é vista como uma questão partidária, embora não tenha feito ainda uma avaliação política da mudança. Mas ele disse que Vogt tem experiência em gestão acadêmica. "Acredito que ele vai fazer uma gestão mais adequada embora não saiba ainda quais são seus projetos para a recém-criada secretaria, que se encontra esvaziada e patinando desde as ocupações das reitorias das universidades em protesto à tentativa de retirar a autonomia dos reitores na administração dos orçamentos", afirmou.
O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, José Raimundo Mendonça de Souza, disse que a nomeação de Vogt não altera fundamentalmente a opinião dos servidores sobre a nova pasta criada por Pinotti, desmembrada da Secretaria de Ciência e Tecnologia. Para ele, enquanto não houver uma discussão séria sobre a estrutura do ensino superior dentro do governo do Estado, nada mudará. Souza é contrário ao desmembramento da pasta por ter deixado de fora as Faculdades de Tecnologia de São Paulo (Fatecs), o Centro Paula Sousa e a própria Fapesp, voltada ao apoio financeiro às pesquisas científica e tecnológica. O sindicalista defende uma volta ao passado e o reagrupamento de todas as unidades na Secretaria de Ciência e Tecnologia.
A queda de Pinotti tampouco o surpreendeu: "Ele estava fragilizado porque cometeu um erro grave com aquele decreto que interferia na autonomia. Acabou recuando e não conseguiu fazer mais nada".
PERFIL
Formado em Letras na Universidade de São Paulo (USP) e professor titular em semântica lingüística da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 1969, onde foi reitor entre 1990 e 1994, o novo secretário detém os títulos de pós-graduação em semântica lingüística na França e nos Estados Unidos, além de ser pós-graduado em teoria literária comparada na USP. Até julho de 2001, foi diretor-executivo do Instituto Uniemp — Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa, em São Paulo. É também presidente do Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica (CenDoTeC), coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Unicamp, e diretor de redação da revista eletrônica de jornalismo científico ComCiência.
SAIBA MAIS
Calcanhar de Aquiles
A área de Educação tem dado dor de cabeça ao governador Serra. O ex-secretário de Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, é o segundo titular de pastas do setor a cair em pouco mais de sete meses de gestão tucana no governo estadual.
Há três semanas, a hoje ex-secretária de Educação, Maria Lúcia Marcondes, foi substituída pela ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep/MEC), ex-secretária de Educação do Distrito Federal e ex-secretária de duas pastas (Assistência Social e Ciência e Tecnologia) do governo Alckmin, Maria Helena Guimarães de Castro.