Notícia

Gazeta Mercantil

Incubadora Esalq cultiva novas empresas no interior

Publicado em 05 novembro 1997

Terra Vídeo está lançando no mercado seu primeiro produto comercial, a fita "A Produção de Flores e Plantas Ornamentais - um novo mercado agrícola". Com apenas três meses de existência, a Terra Vídeo é uma das dez empresas instaladas na incubadora de Piracicaba (SP), mantida pelo Sebrae e pela Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (Esalq), há quase três anos. Os três sócios da empresa são engenheiros agrônomos com experiência na produção de programas para o Canal Rural. "Fazíamos contratos com a Agrodata, uma produtora de Curitiba, no Paraná, que comercializa os programas para o Canal Rural. Agora, continuamos a produzir, mas direto pela nossa empresa", explica Roberto Orives Sophia, um dos sócios. As produções independentes, informa Sophia, enfrentam um problema crucial: a dificuldade de comercialização porque requer um alto investimento em publicidade. "Uma inserção de um anúncio, nosso em uma revista especializada representa um investimento tão grande quanto a própria produção das fitas" afirma o agrônomo. A alternativa que está sendo cogitada é a formação de parcerias tanto na produção quanto na divulgação dos produtos. A expectativa dos sócios é de produzir anualmente de seis a oito fitas com temas agrícolas. "Há poucas com essa especialização hoje no mercado, o que nos garante um grande potencial de crescimento", acredita Sophia. Com um investimento inicial pequeno - em torno de R$ 6 mil -, os sócios compraram equipamentos de segunda mão para iniciar os trabalhos e montar a produtora. A Terra Vídeo tem duas câmaras de vídeo, tripés, kit de luz, dois computadores, monitor de vídeo, vídeo cassete, fax e duas impressoras. "Faltam agora os equipamentos de edição, serviço atualmente terceirizado, e de filmagem digital". Por estar em uma incubadora, os gastos mensais de infra-estrutura da empresa giram em torno de R$ 60, o que inclui o aluguel da área de escritório, água, luz e os serviços comuns do local, como de secretária, faxineira e segurança. A incubadora foi construída em uma fazenda pertencente à Esalq que, além do prédio principal, tem um terreno de um hectare para as empresas que precisam ampliar suas atividades. "A incubadora foi construída com o objetivo de fomentar a formação de novos empreendedores, principalmente os recém-formados da própria Esalq", diz o professor doutor do departamento de agricultura da escola, Geraldo José Aparecido Dario. Mas o critério de aprovação de uma empresa incubadora não inclui a necessidade do pretendente ser formado pela Esalq e que o empreendedor seja recém-formado. "Só não aprovamos propostas concorrentes às que já estejam sendo tocadas na incubadora para não haver conflitos", explica o professor. Os interessados, conta, têm que apresentar um anteprojeto, que é encaminhado para três professores que atuem na área proposta - sempre do segmento agrícola - para avaliarem se há ou não viabilidade para o empreendimento. Em quase três anos de funcionamento, a Incubadora só rejeitou duas propostas inviáveis, diz Dario. A incubadora tem, atualmente, quatro vagas disponíveis e, em março próximo, sairão cinco empresas que utilizam a estrutura local porque o contrato de uso (de três anos) terminará. Cabe à Esalq a orientação técnica gratuita aos participantes, enquanto ao Sebrae, o suporte de gerenciamento do negócio, por meio de cursos, e até financiamentos dentro de linhas existentes para micro e pequenos empresários rurais. Segundo o professor, os custos de manutenção da incubadora são divididos entre os dois parceiros. No ano passado, por exemplo, o Sebrae investiu R$ 57,4 mil em equipamentos e a Esalq, R$ 27,4 mil. Uma das empresas que iniciaram na incubadora e permanece no local, com bom desempenho, é a Estufateç, que fabrica e instala estufas agrícolas, principalmente para produções que utilizam sistema de hidroponia. "No início, terceirizávamos todos os serviços de fabricação, como solda e montagem das estufas", lembra um dos sócios da empresa, o engenheiro agrônomo Carlos Hanada. Agora, a empresa arca com toda a produção porque adquiriu os equipamentos necessários e emprega três funcionários, com um faturamento bruto anual superior a R$ 120 mil. Essa é a primeira experiência de Hanada e do sócio, Richard Müller, também ex-aluno da Esalq, como empresários. Hoje, os dois já têm um cadastro de mais de 700 clientes. Entre eles a Votorantim Celulose Papel, empresa do grupo Votorantim, que fica em Capão Bonito (SP), e adquiriu estufas para os viveiros de clones de eucaliptos. A própria Esalq e a Universidade de Marília, no interior paulista, são clientes da Estufatec, mas a maioria são produtores agrícolas, especialmente de alface, pimentão, tomate e pepino. "Até para produtores de Salvador e Fortaleza já produzimos estufas", conta Hanada. Esses contatos são feitos em feiras do setor, como a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), onde os sócios também conheceram fornecedores da Argentina, com quem iniciaram negócios. Após o término do contrato com a incubadora, os sócios pensam em abrir empresa em Piracicaba mesmo. "Estamos conversando com a prefeitura local para ver se conseguimos algum incentivo Fiscal - hoje restrito a grandes empresas - para nos instalarmos no distrito industrial do município", antecipa Hanada. Frederico Simões, dono da Agroval Perícias Rurais, também terá seu contrato vencido, em breve, na incubadora, mas pensa em transferir seu trabalho para sua própria residência. Simões trabalha sozinho, fazendo avaliações de imóveis rurais para fins de desapropriação e outras pendências judiciais. Formado na Esalq, Simões trabalhou no setor de avaliação de imóveis para a Cesp. Mesmo com experiência anterior, diz, essa é uma área difícil para quem inicia porque requer confiança por parte de quem contrata o perito. "Um laudo mal feito pode prejudicar uma decisão judicial", observa. Como não adianta investir em publicidade, Simões está contornando a situação indo atrás de advogados, principalmente, para se tornar conhecido está cursando o terceiro semestre de Direito na Unimep. "Consigo apenas manter meus gastos com a empresa e com a faculdade", ressalta. Ana Heloísa Ferrero - Campinas Incubadora: (019) 421-3500