A incidência de relâmpagos e trovoadas deve aumentar consideravelmente no Estado de São Paulo nos próximos 30 anos. Foi o que constataram pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em projeção que identificou uma mudança no padrão climático que influencia a incidência de raios no estado mais populoso do país.
O artigo, publicado na revista American Journal of Climate Change, apresenta uma metodologia para a projeção de raios no Estado de São Paulo até 2048, com base em dois cenários de mudança climática – um mais otimista e outro mais pessimista – estipulados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Organização das Nações Unidas (ONU), o IPCC.
De acordo com o estudo, apoiado pela FAPESP, independentemente de o cenário ser mais otimista ou pessimista, espera-se um aumento considerável, de pelo menos 80%, na ocorrência acima da média de relâmpagos.
“Dá para notar uma mudança de padrão, ocasionando uma maior incidência de descargas. Essa alteração é atribuída principalmente às mudanças climáticas que vêm influenciando de diversas formas a maior incidência de raios”, disse Ana Paula Santos, autora principal do estudo.
Santos explica que existe uma forte relação de causa e consequência para a maior formação de raios sobre o estado. Geralmente, o fenômeno acontece quando há a formação de nuvens de grande desenvolvimento vertical, as do tipo cumulonimbus. “Durante os movimentos ascendentes e descendentes do ar, o granizo e os cristais de gelo que estão dentro da nuvem começam a se chocar e é isso que, dentre outros fatores, gera a descarga”, disse.
Dessa forma, o aumento da emissão de gases poluentes na atmosfera, por exemplo, influencia o maior desenvolvimento de nuvens verticais. “Tendo mais nuvens do tipo cumulonimbus, aumenta a chance de raios se formarem”, disse Santos.
Para projetar a incidência de raios no Estado de São Paulo até quase a metade do século, os pesquisadores do Inpe se basearam nas projeções climáticas do IPCC que levam em conta vários fatores, dentre os quais a temperatura de superfície do mar (TSM) e variação ômega, referente à formação de nuvens, são os com maior peso para a análise de tendências de raios.
O estudo mostrou que a tendência para os anos de 2017 a 2032, em um cenário com níveis de emissão intermediários-baixos, é de uma preponderância de 100% de desvios acima da média. O cenário de altas emissões também mostra uma maior porcentagem de eventos acima da média, com um valor de 81,3%.
Já no período que abrange os anos de 2033 a 2048, o cenário otimista apresenta 93,7% de tendência de desvios acima da média. Da mesma forma, no cenário pessimista para o período há uma maior porcentagem de desvios acima da média, com um valor de 93,3%. Para se ter uma ideia, a média de raios no estado atualmente é de cerca de 700 mil por ano.
Santos explica que o resultado contraintuitivo – em que o cenário pessimista apresentou menor tendência de raios – provavelmente esteja relacionado a variações na TSM e no ômega, simuladas pelos modelos. “De qualquer forma, em ambos os cenários há a tendência de aumento na incidência de raios”, finaliza Santos.