Investimentos em pesquisa deveriam ser entendidos como um aspecto da política industrial
A constatação de que os investimentos em pesquisa tecnológica no Brasil são raros e trazem poucos benefícios costuma ser feita cada vez que vem à luz um novo levantamento.
Mudam os números, permanece a conclusão. O mais recente trabalho da Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp) não foge desse padrão. O estudo mostra que mesmo em SP, que concentra a produção de tecnologia, apenas 5% das empresas investem em pesquisa.
O maior número de doutores e o crescimento da produção científica não impedem que o Brasil continue dependendo, em larga escala, da pesquisa feita pelas matrizes de empresas aqui instaladas.
Há várias razões para isso. Uma delas é conjuntural. A pesquisa tecnológica requer investimentos de alto risco, algo virtualmente impossível de ser financiado com juros de mercado num país em que essa taxa está entre as mais elevadas do mundo.
Outra razão é a carência de cultura empresarial voltada para a pesquisa e de política pública que a estimule. A pesquisa responde por menos de 1% do PIB. Para investir em novas tecnologias, as empresas precisam de incentivo.
No Brasil, as áreas que produzem os melhores resultados são aquelas não atendidas por empresas estrangeiras. É o caso de pesquisas agrícolas e de doenças tropicais.
Outros setores, se devidamente incentivados, também poderiam contribuir para reduzir a importação de tecnologia. A Lei de Inovação, anteprojeto do Ministério da C&T que deverá ser encaminhado ao Congresso em abril, é nova tentativa de abordar a questão.
Com chance de se transformar em lei ainda neste semestre, o projeto facilita a utilização de laboratórios públicos por empresas cujos produtos teriam tratamento preferencial na compra por órgãos públicos.
É uma maneira de afirmar que investimentos em pesquisa deveriam ser entendidos também como um aspecto da política industrial.
(Folha de SP, 19/3)
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