O investimento permitirá o avanço do controle biológico de pragas nas lavouras agrícolas
Com a inauguração ontem do maior laboratório de quarentena de inimigos naturais da América Latina, o Brasil poderá avançar no controle biológico de diversas pragas e doenças prejudiciais à agricultura, reduzindo o volume de agrotóxicos utilizados nas lavouras, que representam maiores custos aos produtos cultivados e impactos negativos ao meio ambiente.
"O novo laboratório permitirá ao Brasil os mesmos níveis de qualidade e competitividade de países de primeiro mundo, beneficiando inclusive o aumento das exportações", avaliou o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alberto Duque Portugal.
Localizado no Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento e Avaliação do Impacto Ambiental (CNPMA) da Embrapa, em Jaguariúna-SP, o Laboratório de Quarentena "Costa Lima" funcionava desde 1991 em um prédio provisório, com menor capacidade de pesquisa.
Segundo o pesquisador Gilberto José de Moraes, responsável geral pelo "Costa Lima", a antiga estrutura permitia uma análise simultânea de apenas dois inimigos. No novo prédio, os pesquisadores ampliarão essa capacidade de trabalho para seis a sete espécies ao mesmo tempo. Durante os cinco anos de funcionamento provisório, o laboratório realizou 28 introduções de inimigos naturais em quase todos os estados brasileiros e para as mais variadas culturas, como a mandioca. As vesparasitanas, por exemplo, foram indicadas para o controle da cochonilha da mandioca em vários estados nordestinos.
O novo prédio amplia a capacidade de atendimento e a previsão para este ano é de introduzir de 30 a 40 inimigos naturais para o controle biológico de pragas e doenças. "Os inimigos são trazidos da região de origem da praga e introduzidos com maior segurança na lavoura, pois o período no laboratório impede a entrada no País de organismos indesejáveis, que possam estar acompanhando os organismos úteis", explicou Moraes. Os trabalhos no laboratório são feitos por delegação do Ministério da Agricultura, através da solicitação de instituições ou empresas oficiais e privadas.
O novo prédio conta com uma área de 950 metros quadrados de construção, sendo 590 metros quadrados considerados de área de segurança máxima, onde são feitos os trabalhos de quarentena. O prédio foi construído em um ano com recursos do Bird e do Tesouro Nacional, que dividiram em partes iguais custos, estimados em R$ 1,7 milhão, incluindo os equipamentos. Na América Latina, além do Brasil apenas o Chile e a Argentina possuem laboratórios de quarentena reconhecidos pelo governo. "Os países que não têm essa estrutura praticamente não fazem controle dos inimigos naturais", observou.
O presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal, justificou ontem a ausência do ministro da Agricultura, José Eduardo de Andrade Vieira, na inauguração do novo prédio do Laboratório. Segundo Portugal, a decisão de se afastar do ministério, '"por razões pessoais e políticas", fez com que Andrade Vieira desmarcasse o compromisso com a Embrapa, apesar de continuar no cargo por mais uma semana, a pedido do próprio presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Portugal antecipou, no entanto, que amanhã Andrade Vieira estará ao lado do vice-presidente Marco Maciel, em Brasília, durante as comemorações dos 23 anos de atividades da Embrapa. Com a saída do ministro. Portugal avalia que, a princípio, não há perspectiva de mudanças na própria Embrapa, mas admite que seu cargo está "sempre à disposição" do ministério. O presidente da empresa elogiou Andrade Vieira, afirmando ser este um político "sensível ao processo de desenvolvimento do País" e ainda um empresário de sucesso, que sempre apoiou os projetos importantes da Embrapa.
Notícia
Gazeta Mercantil