Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros revela que as mudanças climáticas terão impactos significativos na Caatinga, um bioma de arbustos e florestas espinhosas semiáridas localizado na região nordeste do Brasil. As consequências incluem a perda de espécies, a substituição de plantas raras por vegetação mais adaptável, a homogeneização biótica, o aumento da aridez e a possível desertificação em algumas áreas.
Os pesquisadores, vinculados à Universidade Estadual de Campinas, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal de Viçosa e Instituto Federal de Goiás, compilaram uma extensa base de dados com mais de 400.000 registros de ocorrência de aproximadamente 3.000 espécies de plantas no bioma. Em seguida, categorizaram as espécies em grupos lenhosos (árvores, arbustos, palmeiras e trepadeiras lenhosas) e não lenhosos (ervas, trepadeiras herbáceas e suculentas).
Utilizando modelos e simulações, eles projetaram as possíveis respostas das espécies vegetais da Caatinga às futuras variações climáticas. Os resultados mostraram que até 2060, 99% dos grupos de plantas na Caatinga sofrerão perda de espécies devido ao aumento da aridez e às temperaturas em ascensão. O clima quente e seco favorecerá o crescimento e a propagação de arbustos e gramíneas, levando à substituição de muitas espécies de árvores. Essa mudança na vegetação impactará serviços ecossistêmicos essenciais, como a fotossíntese, a renovação do ar e o armazenamento de carbono.
As áreas montanhosas dentro da Caatinga, como a Chapada Diamantina e a Chapada do Araripe, serão particularmente afetadas. Espera-se que espécies de áreas mais baixas migrem para terrenos mais elevados à medida que as temperaturas aumentem, enquanto espécies de áreas mais altas correm o risco de extinção. A homogeneização biótica, em que comunidades de plantas anteriormente distintas se tornam mais semelhantes, ocorrerá em aproximadamente 40% dos grupos de plantas, resultando em uma simplificação de sua composição.
Para mitigar os efeitos adversos das mudanças climáticas e das atividades humanas, como desmatamento e destruição do habitat, os pesquisadores enfatizam a necessidade de planos de conservação de longo prazo em nível macro. Esses planos poderiam se concentrar na restauração do paisagem e na conectividade para facilitar a dispersão de espécies para áreas mais adequadas. No entanto, se a biodiversidade continuar comprometida, os recursos e o equilíbrio ecológico da Caatinga estarão ainda mais ameaçados.
Fonte: Mario R. Moura et al, Impactos generalizados das mudanças climáticas na madeira e generalismo ecológico de agrupamentos de plantas de floresta seca, Journal of Ecology (2023).
Fonte: FAPESP