Dêem-lhes vossas massas cansadas e pobres, acotovelando-se ansiosas por um pós-doutorado e para patentear uma profusão de drogas; os infelizes rejeitados por vossos .laboratórios apinhados encontrarão financiamento neste porto dourado. Desde a década de 70, muitos imigrantes que foram para os Estados Unidos lá chegaram com o diploma de doutorado queimando no bolso. Como mostra um estudo publicado na edição da revista Science da semana passada, os Estados Unidos absorveram tão completamente este afluxo de talentos, que os escalões mais altos de seu establishment científico agora estão repletos de mão-de-obra estrangeira.
Sharon Levin, da Universidade de Missouri, e Paula Stephan, da Georgia State University, estudaram mais de 4.500 cientistas e engenheiros da mais alta categoria que exercem sua profissão nos EUA. Depois de verificar quantos deles nasceram ou estudaram no exterior, elas calculam que um número desproporcional entre os cientistas mais completos dos EUA é de origem estrangeira.
As duas economistas começaram analisando, há 20 anos, as listas dos membros da Academia Nacional de Ciências e da Academia Nacional de Engenharia, os mais importantes redutos científicos e tecnológicos dos EUA. Também incluíram os autores dos estudos e das patentes citados com maior freqüência na literatura científica. Por fim, montaram listas de cientistas que fazem parte dos conselhos de administração de empresas americanas do mais alto nível da área de biotecnologia.
Este "time dos sonhos" de pesquisadores se coaduna com uma nação de imigrantes. Em quase todas as categorias mencionadas, em quase todas as disciplinas, a proporção de estrangeiros é maior do que seria de se esperar considerando sua porcentagem na comunidade científica como um todo. Por exemplo, em 1980, apenas cerca de 20% dos cientistas dos Estados Unidos (em todo caso, os que tinham doutorado) haviam nascido no exterior. Na década seguinte, 60% dos autores dos estudos mais citados em ciências físicas, estabelecidos nos EUA, eram de origem estrangeira, assim como quase 30% dos autores das pesquisas mais citadas na área de ciências biológicas. Quase 25% dos fundadores ou "chairmen" das empresas de biotecnologia que abriram seu capital, no início dos anos 90, vieram de fora do país.
Segundo Levin e Stephan, as principais vítimas desta situação são a Alemanha e a Grã-Bretanha.
Superficialmente, não é difícil encontrar o motivo. É o dinheiro. Este ano, os gastos com pesquisa e desenvolvimento na Grã-Bretanha, como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB), despencaram para seu nível mais baixo de 1,8%. Na Alemanha, chegaram a 2.4%. Nos Estados Unidos, foram 2,6%. Daí a migração para o Oeste, atrás do dinheiro. Na esperança de conter o fluxo migratório, um grupo de lobby, "Save British Science" (Salvem a ciência britânica!) tem pressionado o governo para que dobre as verbas destinadas à ciência nos próximos nove anos. A Alemanha prometeu aumentar seus gastos em 100% até o ano 2004.
Mas talvez o problema não seja exatamente este. A proporção da pesquisa financiada pelos contribuintes está caindo em quase todos os países industrializados. O que está aumentando é o financiamento privado. Mas também neste setor a Europa fica atrás dos EUA: e esta situação não está tão obviamente aberta a uma rápida ação dos governos para solucioná-la.
A Europa não é a única a ter este tipo de problema. A China e a índia também acompanham as estatísticas americanas, pois o censo do ano 2000 deverá mostrar um aumento considerável do ingresso nos EUA de cientistas saídos daqueles países também. Os imigrantes asiáticos especializados estão agarrando vistos com a mesma rapidez com que os EUA os estão concedendo. Nas indústrias de alta tecnologia do Canadá, os asiáticos já ocupam mais de 50 mil empregos e produzem um faturamento de US$ 17 bilhões.
Portanto, enquanto os outros países ficam vendo seus talentos serem convencidos a emigrar, o único problema dos EUA é o da escolha.
Mas há também o reverso da medalha. Se os cientistas estrangeiros têm tanto sucesso nos EUA, segue-se que pelo menos alguns pesquisadores nativos estão perdendo na competição pelos postos mais altos. A oposição à imigração se faz sentir tradicionalmente no último degrau da sociedade americana. Será possível uma reação nativista também nos plácidos bosques do ambiente acadêmico?
Notícia
Gazeta Mercantil