A ilha de Trindade é uma das joias do litoral brasileiro. Sua sorte é sua localização: ela dista 600 milhas (cerca de mil quilômetros) do Espírito Santo em direção à África. Por estar longe da costa não foi tão maltratada como Fernando de Noronha, por exemplo, ou outras ainda mais desfiguradas. Infelizmente, quanto mais perto do ser humano, maior é o perigo. Neste sentido, Trindade é uma exceção. Contudo, apesar da distância, pesquisadores encontraram rochas formadas por plástico em área de proteção ambiental da ilha.
Um arquipélago em meio ao Atlântico Sul
Ela é parte do arquipélago Trindade e Martim Vaz. De formação vulcânica, a ilha emerge no meio de um mar de cor azul arroxeado, típico das profundidades abissais, como um enorme paredão de 600 m. Estive lá três vezes e afirmo com segurança: a ilha é de uma beleza fora de série, uma beleza dramática.
Entretanto, ela não escapou de alguns problemas trazidos pela presença humana desde o tempo das grandes navegações. Assim, há espécies invasivas, e muito da vegetação virou comida de bodes e cabras deixados desde a descoberta pelos nautas portugueses. Só muito recentemente, e depois de muita polêmica, a guarnição da Marinha, que desde 1957 se mantém em rodízio, finalmente exterminou a maior parte com atiradores de elite.
Ainda assim, sua biodiversidade é imensa. São mais de 650 espécies de algas, invertebrados, peixes, e outros vertebrados. Como sempre em ilhas, muitas são endêmicas.
Só de peixes são 270 espécies – 24 ameaçadas de extinção –, maior índice de diversidade entre todas as ilhas brasileiras e um dos maiores do Atlântico Sul. Outra espécie endêmica é a fragata-de-trindade, criticamente ameaçada de extinção.
Antes de entrar em nosso tema, vale destacar a história de Trindade onde já estiveram personagens ilustres, entre eles o astrônomo Edmond Halley que em 1700, encontrando-a deserta, ‘tomou’ posse em nome da Coroa britânica.
Navegadores famosos em Trindade
Mas teve mais. O navegador e naturalista inglês James Cook, em 1775; Dumont d’Urville, navegador francês, em 1826; James Ross (que desembarcou), em rumo para a Antártica, em 1839; e também ponto de parada de Robert Scott, a caminho do Polo Sul, em 1911.
Por último, vale destacar os esforços do Itamaraty, e da Marinha do Brasil, que garantiram a posse da ilha em nome do Brasil. Trindade é a única ilha oceânica do Atlântico Sul a não ter a posse da Inglaterra. Isso demonstra a importância geopolítica deste tipo de ilha.
Pesquisadores encontram rochas formadas por plástico na Ilha da Trindade
Um artigo de cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e de outras instituições brasileiras foi publicado no periódico Marine Pollution Bulletin, da plataforma ScienceDirect (Elsevier).
Antes de mais nada, os pesquisadores estudavam novas ocorrências de poluição que demonstram como o plástico está se integrando ao ciclo geológico no ambiente costeiro e marinho.
Aumento da produção e do consumo de novos materiais
Segundo eles, o aumento da produção e do consumo de novos materiais, a partir do desenvolvimento tecnológico, tem ampliado a capacidade de os seres humanos influenciarem o ciclo geológico da Terra, tornando-nos capazes de alterar irreversivelmente esses processos.
Estas ‘alterações’ era o que buscavam provar. Pois bem. O estudo relata a ocorrência de rochas idênticas às naturais, mas compostas por plástico no Parcel das Tartarugas.
O local é uma importante reserva marinha do Atlântico Sul e uma Unidade de Monumento Natural Brasileiro. As rochas constituídas por plástico foram identificadas próximas à maior região de ninhos da tartaruga-verde (Chelonia mydas) e de recifes de vermetídeos do Brasil.
A descoberta de Fernanda Avelar Santos, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFPR, aconteceu durante atividades de mapeamento geológico na Ilha.
“Identificamos quatro tipos de formas de detritos plásticos, distintos em composição e aparência. Os depósitos plásticos na plataforma litorânea recobriam rochas vulcânicas; sedimentos da atual praia compostos por cascalhos e areias; e rochas praiais com superfície irregular devido à erosão hidrodinâmica”, descreve a pesquisadora.
Para se ver como vai longe a poluição produzida por nossos hábitos insustentáveis.
Mar Sem Fim