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IFSC comprova efeitos positivos da aproximação com escolas do ensino médio (1 notícias)

Publicado em 12 de setembro de 2007

Por Olavo Soares, USP Online (osoares@usp.br)

Concluir mestrado e doutorado, estabelecer-se como livre docente da USP, ter uma carreira sólida com direito a períodos de estudo no exterior. Conquistas significativas para qualquer acadêmico. Mas, para Antonio Carlos Hernandes, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, essas láureas têm ficado em segundo plano quando se trata de falar de outro projeto: a presença semanal de alunos da rede pública do ensino médio de São Carlos no IFSC, que visitam a unidade para o desenvolvimento de pesquisas científicas.

"No meio de tantas coisas que a gente faz, posso dizer que essa é uma das que mais dá satisfação pessoal", diz Hernandes. A empolgação do professor condiz com o reconhecimento dos pais dos jovens: recentemente, a equipe do IFSC responsável pela iniciativa recebeu uma carta de um pai dizendo que a presença do seu filho na USP tinha sido a "melhor coisa da vida do garoto", e que a transformação do jovem — para melhor, evidentemente — era das mais significativas.

Mas afinal, que iniciativa é essa que tanto alegra profissionais do IFSC, jovens alunos da rede pública e seus pais? Expliquemos passo-a-passo o que é o projeto. Desde 2004, o IFSC recebe jovens do ensino médio — selecionados pelos seus professores devido aos seus méritos escolares — que se integram em atividades de pesquisa da unidade.

Os alunos conhecem o IFSC, recebem noções básicas complementares de física e aí começam a estabelecer um projeto. Este projeto deve ter, necessariamente, relação com o conteúdo que o aluno vem recebendo nas suas salas de aula. "Para que ele entenda o que é a física, não apenas um monte de cálculos jogados na lousa", diz Hernandes. O projeto é desenvolvido por cerca de um ano e depois apresentado. Num cerimonial que, segundo o professor, tem todos os componentes típicos de uma defesa de mestrado ou doutorado. "O aluno precisa expor seus projetos e falar para uma banca. Geralmente, ele traz pai, mãe, avô, a família inteira", cita o professor do IFSC.

Mas até chegar nesse momento glorioso, os alunos precisam mostrar qualidade e disposição. Boas horas de consulta aos livros, diálogo direto com professores e pesquisadores do IFSC e muito aprendizado na prática: "o aluno tem uma idéia. Na hora de executar ele queima material, quebra algumas coisas, vê que dá errado. E é aí que ele aprende, na prática".

De 2004 — ano do início do projeto — para cá, já passaram 10 alunos pelo programa. Atualmente são sete os envolvidos. Os projetos têm duração de um ano.

Alunos realizam projeto de pesquisa no IFSC por um ano

Licenciatura

Há outro ganho para o IFSC, que vai além da satisfação pessoal dos envolvidos. Hernandes destaca que os estudantes de licenciatura do curso de física têm contato direto com os jovens pesquisadores — o que os aproxima da realidade que encararão quando forem responsáveis por uma sala de aula.

"Além de atender esses jovens, nossos alunos vão até as escolas e conversam com os professores do ensino médio. Lá eles constatam na prática o que é a escola pública — existe uma série de 'verdades', tanto boas quanto ruins sobre o ensino médio, que não procedem, e o único jeito de saber é indo até esses locais", explica o professor Antonio Carlos Hernandes.

O professor ressalta esse componente social da iniciativa. "Sentimos o verdadeiro poder da educação, de fazer algo decisivo. O que é essencial", afirma.

O IFSC é um dos integrantes do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), núcleo interdisciplinar mantido pela Fapesp. Além da realização de pesquisas, o CMDMC tem como ambição a difusão científica — ou seja, levar a ciência ao público geral. Contatos entre o IFSC e a escola José Juliano Neto, de São Carlos, impulsionaram a realização concreta do programa.