Uma equipe internacional de cientistas identificou os genes que possuem um papel importante na metástase do câncer de mama, responsáveis por espalhar as células tumorais do local original para o cérebro. A metástase - processo em que as células se desprendem do tumor original e se alojam em outras partes saudáveis do organismo, formando tumores secundários - é a causa da maior parte das mortes de câncer.
O estudo, realizado por pesquisadores dos Estados Unidos, Espanha e Holanda, tem o objetivo de compreender de forma mais profunda os mecanismos de desenvolvimento da metástase. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira pela revista científica Nature.
De acordo com a pesquisa, os genes COX2 e HB-EGF, que induzem a mobilidade e a capacidade de invasão das células cancerígenas, atuam como mediadores genéticos na metástase do câncer da mama ao cérebro. Um terceiro gene, denominado ST6GALNAC5, fornece às células a capacidade de sair da corrente sanguínea e ingressar no tecido cerebral.
Os especialistas observaram que o ST6GALNAC5, uma enzima normalmente ativa apenas no tecido cerebral, provoca uma reação química que forma uma capa na superfície de células do câncer de mama. Essa proteção aumenta a capacidade de as células metastáticas vencerem a barreira dos capilares e invadirem o cérebro.
"Nosso estudo destaca o papel que esses genes têm em determinar como as células tumorais na mama se libertam de onde estão e, uma vez em movimento, decidem qual local atacar", disse Joan Massagué, do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering e do Instituto Médico Howard Hughes, ambos nos EUA, um dos autores do estudo.
A metástase do câncer de mama ao cérebro ocorre tipicamente anos após a remoção do tumor, indicando que células cancerígenas disseminadas inicialmente não contam com as funções especializadas necessárias para superar a barreira sangue-cérebro, a densa rede de capilares que protege o tecido cerebral. A barreira evita a entrada de células circulantes e regula o transporte de moléculas até o cérebro.
Os pesquisadores isolaram células cancerosas em cérebros de pacientes com câncer avançado. Ao combinar diversos métodos, como perfil de expressão gênica, teste em modelos animais e análise de dados clínicos, os cientistas identificaram genes e funções que seletivamente abrem a passagem das células invasoras pela barreira sangue-cérebro.
"Os resultados destacam o papel da cobertura da superfície celular como um participante importante, e até então ignorado, na metástase cerebral e abrem a possibilidade do desenvolvimento de drogas para interromper essas interações. Novos estudos são necessários para explorar o papel desses genes na metástase cerebral e seu potencial como alvo terapêutico", disse Joan.
Com informações da Agência Fapesp