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FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Identificado biomarcador de envelhecimento no Sistema Nervoso Central (26 notícias)

Publicado em 27 de janeiro de 2022

Por Claudia Jurberg

Grupo de pesquisadores do Rio de Janeiro, São Paulo, Estados Unidos e da Holanda publicou artigo que descreve biomarcador de envelhecimento no Sistema Nervoso Central humano. O artigo saiu no prestigioso periódico Aging cell.

De forma pioneira, o estudo, conduzido por Isadora Matias, bolsista de Pós-Doutorado dentro de um projeto aprovado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia, do Ministério da Saúde (Decit/MS), e recém contemplada com bolsa Pós-Doutorado Nota 10 pela FAPERJ, foi realizado em tecidos sadios de cérebro de animais e humanos post-mortem. Os marcadores do envelhecimento, até então descritos, eram em outros tipos de tecidos e células.

O biomarcador descrito é uma proteína, conhecida como lamina-B1, presente em neurônios e nas células do tipo gliais do Sistema Nervoso Central. A pesquisadora Flávia Gomes, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ) e Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ, coordenadora do projeto, explica que o grupo investiga doenças associadas ao envelhecimento há 10 anos e que, até hoje, não são bem compreendidos os mecanismos de transição entre um cérebro saudável e funcional e um cérebro idoso e, cada vez mais, disfuncional.

"Em nosso estudo caracterizamos, de forma pioneira, um biomarcador da senescência celular, a lamina-B1, no Sistema Nervoso Central, tanto em murinos como em humanos, especificamente em astrócitos. É a primeira vez que esse biomarcador é identificado nessas células de tecido idoso sadio. Não se conhecem bem os marcadores de senescência astrocitária".

O papel dessa proteína, lamina-B1, normalmente, está relacionado à manutenção do núcleo celular, exercendo funções que incluem desde a manutenção da estrutura do núcleo, seu funcionamento e até o reparo de DNA. No estudo, o grupo descreve que a perda de lamina-B1 ocorre em células do hipocampo de camundongos e indivíduos humanos idosos, especialmente, nos astrócitos.

Flávia Gomes detalha que, dentre os fatores causais do envelhecimento, está a senescência celular, um mecanismo importante, que gera um tipo de célula prejudicial que afeta o equilíbrio e a regeneração do tecido. Vários estudos relatam o acúmulo de células senescentes relacionado à idade em humanos, primatas não humanos e roedores. No entanto, até agora pouco se sabia sobre o surgimento e impacto da célula glial senescente no envelhecimento normal do cérebro, afirma.

Flávia Gomes (à esq.), coordenadora do

projeto, e Isadora Matias: grupo investiga

doenças associadas ao envelhecimento há 10 anos

No Sistema Nervoso Central, a senescência astrocitária representa um importante fator para as disfunções celulares e cognitivas associadas à idade. O trabalho publicado por Flávia Gomes, Isadora Matias e outros cientistas mostra que a perda dessa proteína, conhecida como lamina-B1, e deformações nucleares são biomarcadores da senescência astrocitária. O grupo também descreveu que astrócitos senescentes apresentam déficits em seu potencial de promover a formação de sinapses e a diferenciação dos neurônios, o que pode favorecer o declínio sináptico associado ao envelhecimento.

O grupo de cientistas estuda a proteína lamina-B1 desde 2017. Gomes conta que o estudo do envelhecimento enfrenta várias limitações experimentais e que, em breve, poderão ser minimizadas com a inauguração de um novo prédio na UFRJ para estudos da temática do envelhecimento. A partir desse empreendimento, espera determinar se a perda de lamina-B1 é um gatilho para o envelhecimento cerebral ou se é o contrário. O questionamento que ainda perdura é: “O que vem antes: o ovo ou a galinha?”.

O envelhecimento é caracterizado por uma mudança progressiva na fisiologia das células cerebrais que pode contribuir para déficits cognitivos, levando à demência e comprometimento da qualidade de vida. A complexidade do cérebro humano e o aumento da longevidade representam desafios para prevenir e adiar os efeitos do envelhecimento. Por isso, o grupo pretende ainda investigar se essas características da lamina-B1 se repetem em modelos de doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer.

Estima-se que em 2.050 o número de pessoas com 60 anos ou mais será o dobro da atualidade, chegando a quase 2,1 bilhões em todo o mundo. Nesse contexto, é esperado um aumento substancial na incidência de doenças associadas à idade, como câncer, diabetes e doenças neurodegenerativas.

O projeto recebeu financiamento do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (Decit/MS), da FAPERJ, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes).