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Farmacêutico Márcio Antoniassi

Identificada célula que torna quem teve sepse propenso a infecções

Publicado em 08 setembro 2021

Sepse é a principal causa de morte nas UTIs no país; sobreviventes têm risco seis vezes mais chance de desenvolver infecções graves.

A sepse é a principal causa de morte nas unidades de terapia intensiva (UTIs) brasileiras. Entre os pacientes que evoluem para a forma grave da doença, 40% morrem. E os sobreviventes frequentemente apresentam sequelas cardiovasculares e neurológicas, além de uma queda significativa na imunidade que perdura por anos após a alta hospitalar.

“Estudos sugerem que os sobreviventes da sepse têm risco seis vezes maior de desenvolver infecções graves quando comparados a indivíduos que nunca tiveram a doença. Eles ficam suscetíveis até mesmo a patógenos oportunistas, que não costumam causar problemas em pessoas saudáveis. Nós estamos começando a entender por que isso acontece”, diz à Agência FAPESP José Carlos Farias Alves Filho, professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de um estudo sobre o tema que acaba de ser divulgado na revista Immunity.

Popularmente chamada de infecção generalizada, a sepse é na verdade uma inflamação sistêmica comumente desencadeada por uma infecção localizada que saiu do controle. Na tentativa de eliminar o agente patogênico – que pode ser uma bactéria, um fungo ou até mesmo um vírus, como o SARS-CoV-2 –, o sistema imune começa a produzir substâncias inflamatórias de forma excessiva que prejudicam o próprio organismo. Nos pacientes com a forma grave, ocorre lesão de órgãos vitais, queda na pressão arterial e – em última instância – um quadro de falência circulatória conhecido como choque séptico.

Para entender como isso resulta em imunossupressão, o grupo coordenado por Alves Filho fez uma série de experimentos com camundongos e com células imunes isoladas do sangue de pacientes sépticos. A investigação foi conduzida pela pós-doutoranda Daniele Carvalho Bernardo Nascimento, bolsista da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os pesquisadores integram o Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) sediado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

“De modo resumido, nossos resultados revelam que a sepse induz a proliferação de uma subpopulação de linfócitos B que expressa grandes quantidades de CD39 – uma enzima que quebra a molécula de ATP [adenosina trifosfato, o ‘combustível’ químico das células] e libera adenosina na circulação. Esse aumento na concentração circulante de adenosina, por sua vez, reduz a atividade dos macrófagos, que são células de defesa responsáveis por fagocitar bactérias, fungos e outras potenciais ameaças ao organismo”, conta Alves Filho.

Como explica o pesquisador, o aumento nos níveis de adenosina no período inicial da sepse já era conhecido, bem como seu efeito imunossupressor. A adenosina se liga a um receptor presente na superfície do macrófago chamado A2aR, induzindo a produção de interleucina-10 (IL-10), uma molécula com ação anti-inflamatória. A novidade do estudo foi demonstrar que a adenosina tem um papel central no desenvolvimento da imunossupressão pós-sepse e revelar qual célula é a fonte dessa adenosina extra encontrada no sangue de animais e de pacientes sépticos.

“Todas as células do sistema imune expressam CD39 em níveis variados. Mas observamos que tem uma subclasse de linfócitos B, denominada plasmoblasto, que produz grandes quantidades dessa enzima. Nós identificamos que esses plasmoblastos se proliferam muito após a sepse e sofrem uma reprogramação metabólica. Passam a consumir mais glicose e, consequentemente, a produzir mais ATP. Ao mesmo tempo, expressam grandes quantidades da enzima [CD39] que faz a hidrólise do ATP e libera adenosina. É como se os soldados se tornassem capazes de produzir a própria munição”, compara o pesquisador.

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