Depois de alguns anos afastada dos meios acadêmicos brasileiros, a IBM entra em 2002 com um pé na universidade. A primeira parceria nesse sentido está sendo firmada junto à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), a fim de aproximar técnicos da Big Blue de professores e estudantes da faculdade carioca. O segundo passo será outra parceria com uma faculdade de São Paulo. "No passado, a IBM fazia doações, mas esse tempo acabou. O que procuramos é a aproximação do meio acadêmico com a empresa e a transformação do capital intelectual em recursos financeiros, o que não acontece no Brasil", diz Fábio Gandour, gerente de novas tecnologias da IBM.
Embora disponha de um orçamento global de US$ 6 bilhões para pesquisas internas, a gigante de tecnologia descarta a prática corrente de doações. "Se for para entrar com algum capital, podemos fazer isso. Mas a outra parte também tem que entrar com recursos. É assim que se criam parcerias", ressalta Gandour. Médico de formação, pós-graduado em ciências da computação, Gandour acredita que esse modelo deva ser o adotado pela comunidade científica brasileira para alavancar seus trabalhos. "A aproximação entre universidade e empresa não existe de forma organizada. O capital intelectual não gera recursos e não há uma política de registro de patentes. Com tudo isso, não se cria um mecanismo que alimente novas pesquisas no País", reclama. Ele afirma, contudo, que há raríssimas exceções, como o Projeto Genoma apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do "Estado de São Paulo (Fapesp). Iniciativas como os pólos tecnológicos de Santa Catarina, da região de Campinas e do Recife (César) são bem vistas por Gandour. Mesmo assim, ele levanta outra questão: "Quantas patentes já saíram desses centros?".
Fábio Gandour também destaca iniciativas internas da IBM como o Global Technology Outlook, reunião da Academia de Tecnologia da IBM da qual Gandour é um dos 386 membros (cinco são ganhadores do prêmio Nobel). No encontro de 2001, nos Estados Unidos, procurou-se prever o que ocorrera nos próximos 10 anos em termos de tecnologia. As discussões deram origem a um texto, transformado no livreto "Autonomie Computing", em que o vice-presidente sênior da IBM Research. Paul Horn, conclama companhias de TI de todo o mundo a unirem-se em torno desta discussão. "Alguns concorrentes se dispõem a participar deste trabalho, que já detecta, por intermédio de sofisticados métodos de métrica, a falta de profissionais de TI para suprir a demanda das empresas na próxima década", conta o gerente da IBM. As dificuldades podem aumentar nesse sentido devido à complexidade cada vez maior de integrar sistemas em um tempo cada vez mais rápido como o exigido pelo mercado.
Ocupados com tais desafios, os técnicos da IBM criaram, em abril do ano passado, o Projeto eLiza, uma iniciativa para integrar sistemas autônomos em produtos e serviços como servidores, softwares, storage e middleware. "O eLiza é um conjunto de critérios que um software deve obedecer para ser tolerante a falhas", detalha Fábio Gandour, que reconhece ser difícil fazer com que os softwares atuais se enquadrem em tais critérios de tolerância. "A IBM já conseguiu enquadrar quatro de seus softwares ao eLiza", anuncia.
Outro programa de porte global, criado em 2000, é o Life Sciences, que lida com ciências da vida, indústrias farmacêuticas e genética humana. "Desses eventos saem discussões que podem ser transformadas em métodos de trabalho e, depois, em produtos e serviços utilizados pela IBM", diz Gandour, que cita como outro exemplo o chip de carbono. "Não criamos o microprocessador com esse material, mas desenvolvemos um método para produzir nanotubos em condições industriais, já patenteado pela IBM. Ou seja, a empresa encontrou uma utilidade comercial para seus experimentos com chips de carbono, mais resistentes que os de silício. Em termos de projetos, a IBM fechou o ano de 2001 com um novo recorde de 3.411 patentes registradas nos Estados Unidos. "Cerca de 60% desses registros não foram feitos em cima de propriedade, mas sobre o capital intelectual de nosso banco de idéias", afirma o gerente de novas tecnologias.
A versão local dos encontros da IBM foi batizada de "Sexta Tech", que procura dar um novo impulso ao discurso tecnológico junto aos funcionários, envolvidos no seu dia-a-dia com as questões práticas da empresa.
Notícia
Gazeta Mercantil