O Instituto Biológico (IB), órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secreta ria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, acaba de assinar um convênio de R$ 200 mil com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver um projeto de orientação ao pequeno suinocultor paulista.
Intitulada "Criação de Suínos Saudáveis: uma alternativa para a agricultura familiar", a iniciativa do IB nasceu da necessidade de inserir o pequeno produtor no mercado de carne suína. "Na nossa experiência em campo sempre vimos que esses criadores não têm infra-estrutura, não têm dinheiro para garantir a sanidade de seu rebanho e, por isso, caem num círculo vicioso, por que têm a qualidade e a produtividade comprometidas e acabam se sujeitando a vender essa carne na clandestinidade", diz a diretora do Centro de Sanidade Animal do IB, Josete Garcia Bersano. "Agindo assim, ele nunca vai conseguir sair do mercado paralelo. E estará colocando a saúde do consumidor em risco", completa.
Segundo Josete, o produtor só conseguirá mudar sua conduta se for devidamente orientado. "Ele precisa que alguém mostre o caminho certo e nós estamos dispostos afazer isso."
Nessa empreitada, o IB contará com parceiros como o Instituto de Zootecnia (IZ) de Nova Odessa, o Instituto de Economia Agrícola (IEA), a Associação dos Criadores de Suínos, a Defesa Sanitária Animal do Estado, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Jaboticabal.
O IZ ficará responsável pelas áreas de produção, nutrição e manejo do rebanho. O IEA, pelo acompanhamento e análise econômica. A Associação dos Criadores se encarregará das ações de biosseguridade. A Defesa Sanitária Animal do Estado e a Cati desenvolverão trabalhos de extensão rural, levando o conhecimento ao produtor. E na Unesp de Jaboticabal serão feitos os diagnósticos laboratoriais de cisticercose. "É um trabalho multidisciplinar voltado para pequenas criações, para pessoas que vivem na pobreza e na precariedade e que já não acreditam mais na sua atividade", diz Josete. "Queremos devolver a esperança a esse produtor."
Estrutura
O projeto prevê a sistematização de novas metodologias para diagnosticar enfermidades que interferem na produção de suínos, tais como a síndrome de refugagem de leitões (circovírus), gastroenterite transmissível (TGE), pneumonia enzoótica, influenza suma, toxoplasmose, cisticercose, entre outras.
As propriedades terão acompanhamento e os profissionais vão propor medidas sanitárias e zootécnicas para melhorar a qualidade e aumentar a produtividade do rebanho. "A idéia é promover a melhoria das condições socioeconômicas do agricultor e de sua família, por meio do controle ou erradicação das moléstias diagnosticadas, incluindo as zoonoses, que oferecem risco de transmissão ao homem", explica Josete.
Os profissionais já indicam até a criação de alternativas de abate e a comercialização dos suínos em sis tema cooperativista, para facilitar o escoamento da produção.
Trabalhando de forma 'preventiva', os profissionais conseguirão, ainda, proteger o consumidor. "Ao agregar qualidade sanitária ao animal acabado, ao produto final que chega ao mercado, os produtores estarão mudando de atitude e Isso significará segurança a quem m pra carne suma."
Com esse conjunto de ações, IB quer estabelecer um modelo de sistema criatório de suínos que possa ser aproveitado pela Agência Paulista dos Agronegócios (Apta), órgão da Secretaria da Agricultura e Abaste cimento do Estado de São Paulo. "O objetivo é levar isso para todo o Estado e dar impulso ao pequeno produtor", diz Josete.
As primeiras cidades a receber orientação serão Santana do Parnaíba, Franco da Rocha, Cajamar, Mairiporã e Francisco Morato. Dez pequenos produtores terão assistência e a propriedade de um deles servirá de modelo para todas as outras. "Estamos terminando o levanta mento sanitário, vendo que doenças efetivas há nessas criações", afirma.
Segundo ela, cada produtor escolhido tem, em média, dez matrizes. "Das cem matrizes verificadas, 30% têm anticorpos para cisticercose, 30% têm anticorpos para leptospirose e 100% já tiveram contato com o vírus da parvovirose e parasitas diversos", constata Josete. "Isso é muito perigoso para o consumidor"
Nas propriedades, diz ela, observou-se a presença de roedores e esta do sanitário bastante precário. "Os animais são criados com lavagem e isso atrai muitas pragas", explica a pesquisadora.
O próximo passo é sensibilizar os proprietários dessas criações e incentivá-los a mudar sua conduta. Para isso, orientação técnica, palestras, vacinação, higienização de animais e tratamento daqueles que estiverem doentes fazem parte de um cronograma de ações. "Faremos uma segunda sorologia posteriormente."
A partir da orientação desses dez primeiros produtores, o IB quer entrar em outras propriedades do interior do Estado. "A idéia é for mar agentes multiplicadores. Mostrando aos produtores que eles podem se profissionalizar e que is será bom, teremos a ajuda deles para levar a informação a outros donos de criações."
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)