Produtos terão prazo de validade dobrado e frascos menores, para atender demanda dos pequenos produtores
O investimento de R$ 3,5 milhões na compra de equipamentos para o Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, deve triplicar a produção de imunobiológicos pelo Brasil até 2021 e abrir caminho para nova área de pesquisa na produção em grande escala. O IB é a única instituição brasileira autorizada a produzir os insumos que atendem o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT). Os imunobiológicos são utilizados para o diagnóstico de tuberculose e brucelose em animais. Sem esses antígenos, o País não pode vender nem comprar animais no exterior, além de prejudicar o trânsito interestadual e impactar diretamente na saúde da população. Pesquisas utilizando os novos equipamentos permitirão ainda dobrar o prazo de validade dos produtos e produzir frascos com doses menores, para atender a demanda dos pequenos produtores rurais.
Segundo o médico veterinário do IB, Ricardo Spacagna Jordão, o Instituto adquiriu três equipamentos para o Laboratório de Produção de Imunobiológicos, localizado em São Paulo: uma envasadora automatizada de frascos, um fermentador Single Use, que é único na América Latina e tem capacidade para produção de 300 litros – 30 vezes maior do que o usado hoje pelo Instituto –, e um sistema automatizado de ultrafiltração. Os dois primeiros equipamentos já foram instalados e as pesquisas iniciadas. O sistema de filtração deve entrar em funcionamento em março de 2020. O recurso para a compra dos equipamentos foi disponibilizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por meio do Plano de Desenvolvimento Institucional em Pesquisa (PDIP).
“Esses equipamentos vieram apoiar a pesquisa aplicada para otimização de processos e novos produtos no Instituto Biológico. Nossa produção de imunobiológicos anual é de 4,5 milhões de doses, aproximadamente. Esperamos em 2020 aumentar em 38% a produção e em 2021 triplicar. Nos últimos quatro anos a produção já aumentou 2,5 vezes, sendo que para os próximos a expectativa é de aumentar esta taxa de crescimento. Com isso, poderemos atender a demanda nacional de imunobiológicos, que é de 12 milhões de doses por ano”, explica Jordão.
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A melhoria da infraestrutura laboratorial também permitirá aumentar de um para dois anos o prazo de validade dos produtos, uma demanda antiga dos clientes. Outro ganho para os pecuaristas será a quantidade de doses dos produtos ofertados. Atualmente, um frasco de Tuberculina, usado para o diagnóstico de tuberculose, possui 50 doses, para brucelose AAT, 160 doses, e Prova Lenta, também usado para diagnóstico de tuberculose, 60 doses. Além dos tamanhos tradicionais, o IB passará a também ofertar frascos com 20, 64 e 24 doses, respectivamente.
“Isso é muito importante para o pequeno produtor. Se o pecuarista, por exemplo, tem dez animais na sua fazenda, não precisará comprar um frasco de 50 doses. Como trabalhamos com produto biológico não é possível guardar, ou seja, 40 doses teriam que ser descartadas. A redução nos frascos traz ganhos econômicos para o produtor, aumenta a qualidade e reduz o desperdício, que hoje é estimado em 30% por conta do tamanho dos frascos”, afirma o médico veterinário do IB. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) já autorizou o IB a produzir imunobiológicos em frascos menores.
Além do aumento da capacidade de produção e a melhoria dos produtos, o IB planeja expandir suas pesquisas na área e ampliar seu portfólio de produtos para o setor produtivo. “Os ganhos são em cascata. Maior produção significa mais recursos financeiros para a compra de equipamentos e desenvolvimento de novos produtos. Este é o início para melhorar o atendimento ao pecuarista, novas parcerias tecnológicas e aumentar o nosso portfólio”, afirma.
O Laboratório de Produção de Imunobiológicos do IB possui licença de funcionamento expedida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que garante a qualidade dos produtos produzidos pelo Instituto de pesquisa paulista. O IB comercializa os kits com imunobiológicos para 24 Estados brasileiros, além do Distrito Federal. A venda é feita para médicos veterinários habilitados, por meio de casas agropecuárias que compram estes produtos do IB. “O Instituto Biológico está equipado com o que há de mais moderno no mundo nessa área. Estamos à frente nas pesquisas e esses equipamentos vão nos ajudar a ampliar os estudos e a produzir novos produtos para promover a sanidade no rebanho brasileiro”, afirma Ana Eugênia de Carvalho Campos, diretora-geral do IB.
O que são imunobiológicos?
Os imunobiológicos são antígenos – microoganismos mortos, proteínas produzida por bactérias etc – usados para diagnosticar doenças, entre elas a tuberculose e a brucelose em diversas espécies, principalmente nos de produção, como os bovinos. O IB disponibiliza aos pecuaristas brasileiros kits para análise. Caso os animais apresentem resultado positivo na pesquisa de anticorpos, precisarão ser eutanasiados e a propriedade pode até mesmo ser interditada. “Caso a carne ou leite infectados sejam consumidos, as pessoas podem se contaminar com essas doenças, daí a importância de se fazer o controle sanitário”, afirma Jordão.
Os custos para manter a sanidade de um rebanho são bem menores do que as perdas que essas doenças podem causar. “O trabalho do IB tem grande influência no controle e erradicação da tuberculose e da brucelose, beneficiando a pecuária nacional e contribuindo para torná-la competitiva”, explica o médico veterinário do IB. Alguns países, como a Rússia, não importam carne de países com risco dessas doenças.
O Brasil busca a erradicação da brucelose e tuberculose. Segundo Jordão, estudos indicam que São Paulo possui 2,3% de animais positivos para brucelose e 1,3% para tuberculose. Os Estados Unidos calcularam que os benefícios da erradicação da tuberculose bovina poderiam chegar a 300 milhões de dólares. A brucelose bovina reduz em até 25% na produção de leite e de carne. Estima-se prejuízo anual de US$ 600 milhões na América Latina.
O diagnóstico da tuberculose e brucelose nos animais utilizando os imunobiológicos somente pode ser feita por médicos veterinários habilitados. No caso da brucelose, o diagnóstico é feito in vitro. O profissional habilitado utiliza uma gota do soro do animal e mistura com uma gota do imunobiológico para identificar se há formação de aglutinação, que são grumos da ligação antígeno-anticorpo. Se sim, o animal tem, ou já teve, brucelose. “O teste de tuberculose é feito in vivo, ou seja, o imunobiológico é injetado na pele, no pescoço do animal. O médico veterinário mede a prega formada (reação positiva na pele da tábua do pescoço do animal) e identifica se há reação ou não”, explica Jordão.