A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) vai repassar R$ 27 mil em dois anos para um estudo de bioecologia e controle biológico do Rhynchophorus palmarum, praga que tem causado danos às plantações de banana da região de São Bento do Sapucaí, tradicional centro produtor da variedade prata.
O projeto será desenvolvido pelos pesquisadores científicos Antônio Batista Filho, José Eduardo Marcondes de Almeida e Luís Garrigós Leite, do Instituto Biológico (IB), Hélio Minoru Takada, do Pólo Regional de Tecnologia dos Agronegócios do Vale do Paraíba, e pela engenheira agrônoma Alessandra Goulart Carvalho, da Casa da Agricultura de São Bento do Sapucaí, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati).
Todos os órgãos envolvidos estão ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
De acordo com Batista Filho, ex-diretor técnico do Centro Experimental Central do IB em Campinas que assumiu no último dia 18 a direção geral da instituição, o objetivo do estudo é estabelecer um sistema de manejo sustentável da população de R. palmarum na região de São Bento. Para isso, os pesquisadores vão realizar estudos de laboratório sobre a biologia da praga, conhecer a dinâmica populacional do inseto no campo, selecionar dados isolados de agentes microbianos para controle biológico do inseto, avaliar a compatibilidade de produtos fitossanitários usados na cultura da banana com os agentes selecionados, estudar e propor medidas de controle (comportamental, biológico e cultural) que auxiliem o manejo integrado da praga.
O Rhynchophorus palmarum já era conhecido como broca-do-olho-do-coqueiro, o principal vetor de um nematóide que transmite ao coqueiro uma doença conhecida como anel-vermelho. As larvas de R. palmarum formam galerias internas na planta, chegando a destruir totalmente seus tecidos. Essa espécie já foi registrada como praga séria nas culturas de mamão, cacau, cana-de-açúcar, coco e outras palmáceas do México e da América Central.
No Brasil, não havia nenhuma referência sobre esse inseto causando prejuízo em plantações comerciais de banana. Há quatro anos, porém, um produtor de São Bento do Sapucaí enviou ao Instituto Biológico uma amostra do inseto, para saber de que tipo de praga se tratava.
Os pesquisadores começaram a estudar o caso e notaram que a broca agia nas bananeiras da mesma forma que nos coqueiros. "Em junho de 2001, coletamos adultos com armadilhas feitas com baldes, cana e feromônio (substância química atrativa). As larvas foram recolhidas depois de abrirmos as bases das plantas", explica Batista Filho.
O INSETO
O adulto do R. palmarum é um besouro preto, que mede de 4 a 6 centímetros de comprimento. Nas palmeiras tem hábito diurno e a fêmea, quando atraída para o coqueiro, penetra na parte tenra da planta, onde coloca, em média, quatro ovos por dia - o equivalente a 250 em toda sua vida.
Após três dias de incubação, eclodem as larvas que "cavam" galerias nos tecidos das plantas. Elas são brancas e duram de 33 a 62 dias. Quando completamente desenvolvidas, medem de 4 a 5 centímetros de comprimento e começam a construir seus casulos com fibras da palmeira, onde se transformam em pupa. Depois de 12 dias, o adulto, que dura de 45 (fêmea) a 127 dias (macho), emerge. "Esses são números da praga em coqueiros. Queremos fazer esse levantamento nas bananeiras", afirma Batista Filho.
Isso porque nas bananeiras também foram detectadas galerias no rizoma (base) da planta, amarelecimento da folha, redução de peso e número de cachos e queda de plantas. "Também foram encontrados casulos de fibras da bananeira", diz o pesquisador do IB.
Com o estudo, poderão ser avaliados o comportamento do inseto em bananais, sua biologia, flutuação populacional e ainda serão avaliados os potenciais de uso de fungos e nematóides no controle biológico da praga. "Esses agentes têm se revelado eficientes no controle de uma outra praga da bananeira, a Cosmopolites sordidus", adianta Batista Filho.
Notícia
Correio Popular (Campinas, SP)