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IA gera interrogação sobre o uso de energia limpa em data centers (70 notícias)

Publicado em 21 de novembro de 2024

Por Silvio Lohmann

Em um mundo com absoluta dependência da internet, potencializada pelo avanço da Inteligência Artificial (IA), da mineração de criptomoedas e da mudança para a computação em nuvem, há dúvidas sobre a capacidade global de geração de energia limpa para fazer funcionar os grandes centros de processamento de dados que sustentam a revolução tecnológica contemporânea.

A estimativa é de que o universo da computação responde atualmente por 2,5% da demanda global por eletricidade e o consumo só cresce com a chegada da Inteligência Artificial. A tecnologia transformou em corrida de obstáculos a busca pela eficiência energética e, ao mesmo tempo, colocou uma interrogação sobre o processo de descarbonização da geração elétrica.

Um metro quadrado de um data center dedicado a IA pode consumir a mesma eletricidade de 15 casas, e produz calor equivalente. Além do gasto para manter máquinas ligadas, há poderosos sistemas de resfriamento dos equipamentos. Para esta estrutura não há outra opção de escala de trabalho diferente de 7 x 0, com operação nas 24 horas do dia, no ano inteiro.

Um estudo recente da consultoria americana Gartner INC estima que 40% dos data centers sofrerão restrições de abastecimento de energia nos próximos anos, principalmente de fontes limpas. Na avaliação da consultoria, haverá crescimento nas emissões de CO2 para gerar a energia necessária no curto prazo para atender grandes servidores, comprometendo metas de sustentabilidade anunciadas pelas próprias empresas do setor.

A Gartner avalia que a demanda para operar servidores otimizados para IA vai chegar a 500 terawatts-hora (TWh) em 2027. É uma estimativa conservadora se comparada às da Agência Internacional de Energia (AIE), que aponta o uso de 620 TWh a 1.050 TWh até 2026 para o funcionamento de centros de processamento de dados. A BloombergNEF, por sua vez, considera que o consumo global de energia por data centers atingirá 1.580 TWh até 2034. O volume é 50% maior que o atual consumo anual de um país como o Japão.

O caso da Irlanda

A Irlanda é um país menor que grande parte dos estados brasileiros e se transformou em um polo de tecnologia que abriga 82 data centers. Nos próximos três anos, este segmento poderá consumir até um terço da energia gerada no País, com a instalação de mais 54 centros. Atualmente, a demanda do setor é de 21% da energia produzida, contra 18% do consumo residencial. A Irlanda é autossuficiente em energia e dados de 2022 indicam que a geração se equilibrava entre fósseis (58%) e renováveis (42%).

Do G20 para a COP29

Líderes das maiores economias do mundo renovaram na reunião do G20, no Rio de Janeiro, as boas intenções para combater a crise climática. Apesar do documento final não jogar luz sobre a eliminação dos combustíveis fósseis, os governantes indicaram que vão apoiar a definição de um mecanismo de financiamento climático, principal tema da COP29, de Baku. Há ciência de que a conta passou da casa dos bilhões para a de vários trilhões.

Lobistas na COP (I)

A ONG Kick Big Polluters Out (Expulse os Grandes Poluidores, em tradução livre) contabilizou 1.773 representantes da indústria fóssil entre os credenciados para a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP29) de Baku, no Azerbaijão. Segundo a entidade, o encontro teve a participação de mais “lobistas” do que a soma dos delegados de dez países que mais sofrem com a mudança do clima: Chade, Ilhas Salomão, Níger, Micronésia, Guiné-Bissau, Somália, Tonga, Eritreia, Sudão e Mali.

Lobistas na COP (II)

No ano passado, em Dubai, a organização disse que as companhias de petróleo, gás e carvão credenciaram 2.456 participantes na COP28. A queda é explicada porque naquela conferência circularam 97.372 pessoas, enquanto na atual são 52.305 presentes. Uma das declarações que marcou o encontro em Baku veio do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que disse que as reservas de combustíveis fósseis são “presentes de Deus” e que os países não deveriam ser culpados por utilizá-los.

Brasil reduz emissões

O Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, indicou que Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) em 2023. O valor representa uma redução de 12% sobre 2022, quando o país emitiu 2,6 bilhões de toneladas. É a maior queda percentual nas emissões desde 2009, quando o país registrou a menor emissão da série histórica iniciada em 1990. Os dados revelam que o desmatamento diminuiu na Amazônia e isso produziu o efeito da queda nas emissões. O Observatório do Clima diz que o levantamento “põe o Brasil mais perto de cumprir suas metas climáticas para 2025”.

Hidrogênio de etanol

A Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu um sistema para transformar etanol em hidrogênio verde (H2v). O combustível será usado para mover três ônibus dentro da própria instituição e um automóvel cedido pela Toyota. A universidade informa que esta é a primeira estação de abastecimento de hidrogênio renovável do mundo com a tecnologia que aquece o etanol e água a 750ºC, quebra as moléculas e gera hidrogênio e CO₂ biogênico. A produção inicial será de 100 quilos por dia. Segundo a USP, com a conversão de seus 18 ônibus para o novo combustível será possível reduzir suas emissões em 3 mil toneladas de CO2 por ano. A agência FAPESP, informa que a experiência vai avaliar a eficiência e o impacto ambiental do hidrogênio no transporte urbano.