Um jardim comestível, florido e cheio de borboletas e abelhas. Assim é apresentada a Horta Comunitária da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) no livro de receitas recém-lançado, um dos vários frutos da iniciativa que há cinco anos encheu de vida o cimentado de uma grande laje desocupada e árida do prédio da instituição.
A data foi comemorada na última semana, durante a 2ª Feira de Inverno da Horta, evento que encerrou a programação da 9ª Semana do Meio Ambiente da Faculdade. “É a nossa segunda de inverno, mas a sexta vez que realizamos a feira. Nossa proposta é promover uma a cada início de estação, mas esta aconteceu antes para festejarmos o aniversário de cinco anos, uma data especial”, contou um dos fundadores da horta, o funcionário do setor de documentação científica Paulo Sérgio Zembruski, que é também técnico agrícola.
Em junho de 2013, ele e a professora Thaís Mauad iniciaram o cultivo de algumas espécies, principalmente plantas medicinais, após a obtenção de sinal verde da instituição para o projeto que apresentaram. Hoje, coordenam uma iniciativa que, além de reunir 452 variedades, de frutíferas a amazônicas, passando por espécies estrangeiras e muitas Pancs (plantas comestíveis não convencionais), tornou-se local de convívio e troca de conhecimen tos de pessoas de várias idades, assim como de realizações diversas.
Frutos – Durante esses cinco anos de existência, em paralelo à produção de mais de três toneladas de plantas comestíveis com a participação de voluntários, a horta propiciou o lançamento de publicações, o desenvolvimento de pesquisas, a promoção de eventos científicos e de oficinas gratuitas e abertas ao público em geral e a participação de alunos bolsistas (são cinco no momento), entre outras atividades.
Segundo Zembruski, os frutos da horta incluem ainda uma parceria com o município relacionada à merenda escolar, na qual são promovidas oficinas para merendeiras sobre alimentação, sem falar na recepção a grupos de visitantes e na produção de mudas. “Atuamos como viveiro de Pancs e distribuímos mudas para instituições que possam replicá-las”, explica o especialista. “Eventualmente, também fazemos doação de alimentos”, emenda.
Para a exposição e vendas nas feiras, são convidados agricultores de outras hortas urbanas e pequenos produtores de artigos orgânicos. “Nós fazemos a divulgação e depois selecionamos os que têm perfil condizente com o nosso trabalho”, acrescenta Zembruski.
A natureza na cidade – No evento comemorativo foram oferecidas, ainda, gratuitamente, oficinas de tai chi chuan, ioga e apresentação de coral. Alguns voluntários, além de se confraternizarem com os amigos que fizeram na atividade, aproveitaram a ocasião para compartilhar seu trabalho com o público.
As amigas Tereza Nakanishi e Dirlei Ferreira de Oliveira, que fazem parte do grupo de seis a sete voluntários fixos do momento, estavam entre eles. Integrantes do Gero, serviço de geriatria do Hospital das Clínicas, descobriram a horta há dois anos e desde então fazem questão de frequentá-la.
“A gente veio conhecer e perguntou se poderia participar dos mutirões de rega. Aqui, encontramos a oportunidade de conviver com a natureza no meio da cidade e de aprender muito. A gente faz de tudo”, conta a aposentada Tereza. Ela diz que, entre as novidades que conheceu, a que mais gostou foi o mini- -pepino. “Em conserva, é melhor ainda”, diz.
Ora-pro-nóbis – A dona de casa Dirlei concorda e explica que não lhe falta disposição para comparecer regularmente tanto no Gero quanto na horta. “São ambientes gostosos, por isso vale a pena”, explica. A cardiologista Elisabeth Kaiser também frequenta a horta semanalmente há dois anos, desde que se aposentou no Instituto do Coração. “A coisa na teoria já me interessava, inclusive pela questão da saúde, mas na prática me surpreendeu. Venho aos mutirões duas vezes por semana e planto, capino, rego, tiro matinhos, troco receitas, aprendo, conheço novos alimentos. Descobri um monte de coisas que não conhecia, até meus hábitos alimentares mudaram. É muito valioso para mim”, declara ela, que elegeu a Panc ora-pro-nóbis como a novidade predileta. “É uma planta quase tão proteica quanto a carne”, ensina.
Zembruski, conhecido por todos pela energia e disponibilidade para o trabalho com as plantas, além do grande conhecimento do cultivo e das propriedades das várias espécies, considera a ação comunitária essencial para a longevidade da iniciativa. Por isso, faz questão de exaltar a contribuição de cada um. “É essa união que faz com que nossa ação cresça e seja replicada”, destaca. E avisa: “Todos que estiverem dispostos a colaborar, mesmo que por um dia, são bem-vindos”.
Simone de Marco
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial
SERVIÇO
Para mais informações, acesse: www.facebook.com/HortaDaFmusp/
Boas práticas em agricultura urbana
O trabalho desenvolvido na Horta Comunitária da FMUSP também inspirou a criação de um novo núcleo de pesquisas no Instituto de Estudos Avançados (IEA), da USP: o Grupo de Estudos em Agricultura Urbana (Geau), coordenado por Thaís Mauad, especialista em saúde urbana.
Segundo a professora e médica patologista, o objetivo da criação foi reunir as várias iniciativas que surgiram nos últimos anos focadas em entender o processo do crescimento do cultivo nas cidades.
Exemplo disso é a pesquisa de doutorado do engenheiro ambiental Luís Fernando Amato-Lourenço, financiada pela Fapesp e orientada por Thaís, sobre os efeitos da poluição do ar nos alimentos cultivados nas hortas urbanas e suas consequências para a saúde.
De acordo com ele, o interesse em estudar esse assunto surgiu depois de atuar como voluntário no projeto. “As pessoas perguntavam muito sobre isso, por isso achei que era importante investigar no tema”, explica ele, que teve a ideia de realizar a cartilha, on-line no site do IEA como forma de traduzir em linguagem acessível as informações obtidas. “Foi a maneira que encontrei de dar um retorno para as pessoas. A cartilha visa a guiar os interessados a criar uma horta segura, bem- -sucedida e sustentável”, finaliza.