Pesquisadores brasileiros identificaram, em um estudo com camundongos, como o hormônio FGF19 — produzido no intestino — age no cérebro para regular o metabolismo energético do corpo.
A descoberta pode abrir novas frentes na criação de tratamentos para obesidade, diabetes e outras condições metabólicas. As conclusões do estudo foram divulgadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). A investigação mostrou que o FGF19 (fator de crescimento de fibroblastos-19) atua diretamente no hipotálamo, uma região cerebral fundamental para o controle de funções corporais.
Nesse local, o hormônio ativa processos que aumentam o consumo de energia, promovem a queima de gordura e contribuem para o controle do peso corporal e da glicemia em animais com obesidade. Embora já se soubesse da influência do FGF19 na redução do apetite, a novidade deste estudo está em demonstrar sua relevância na ativação de termogênese — o processo de produção de calor pelo corpo — nos tecidos adiposos branco e marrom. Esse efeito parece estar parcialmente ligado à intensificação da atividade do sistema nervoso simpático, mecanismo que também é explorado por medicamentos modernos voltados para o tratamento de diabetes e obesidade.
Um exemplo citado é o Ozempic, cujo princípio ativo, a semaglutida, simula a ação do hormônio GLP-1, que induz a sensação de saciedade. Os cientistas também observaram que o FGF19 contribuiu para a redução de inflamações em outras partes do corpo e melhorou a tolerância dos camundongos a temperaturas frias. Curiosamente, a exposição ao frio aumentou a presença de receptores do FGF19 no hipotálamo, sugerindo que esse hormônio tem um papel adaptativo na regulação da temperatura e do balanço energético. O trabalho foi conduzido por pesquisadores do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com financiamento da FAPESP.
Os resultados foram publicados na revista American Journal of Physiology – Endocrinology and Metabolism. Embora o FGF19 seja majoritariamente sintetizado no intestino delgado, suas ações sobre o fígado já haviam sido mais investigadas, ao contrário de seus efeitos neurológicos, que até então eram pouco compreendidos. Leia também: Estudo revela: obesidade antes dos 30 anos aumenta em 75% o risco de morte precoce
Obesidade pode interferir negativamente no tratamento contra câncer infantil A descoberta surge em meio a um cenário alarmante: de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025, os objetivos globais de controle de doenças crônicas, como obesidade e diabetes, dificilmente serão alcançados. Hoje, mais de 1 bilhão de pessoas convivem com obesidade no mundo, número que pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030. A condição está associada a cerca de 1,6 milhão de mortes prematuras por doenças não transmissíveis anualmente. No Brasil, aproximadamente 31% dos adultos têm obesidade. Os próximos passos da pesquisa incluem investigar maneiras de estimular a produção natural do FGF19 no corpo humano e aprofundar a análise sobre seu papel na inflamação do hipotálamo, processo geralmente ligado a dietas ricas em gordura. *com informações de FAPESP