O professor belga Willy Jean Malaisse, responsável por valiosas contribuições para o conhecimento dos mecanismos reguladores da função secretora da insulina e do diabetes, e que influiu decisivamente na formação de inúmeros pesquisadores brasileiros na área biomédica, recebeu nesta quinta-feira (25) o título de Doutor Honoris Causa da Unicamp. A outorga do título, por solicitação do Instituto de Biologia (IB), deu-se em assembléia extraordinária do Conselho Universitário.
Coube a Antonio Carlos Boschero, professor titular do IB, fazer a saudação ao homenageado, lembrando de sua vinda à Unicamp em 1975, por 15 dias, em sua primeira passagem pelo Brasil. "Quando iniciamos nosso curso de pós-graduação em fisiologia, decidimos convidar alguns professores de fora da Unicamp e mesmo de fora do país. Um dos nomes cogitados foi do professor Malaisse, expoente na pesquisa sobre ilhotas de Langerhans, tecido que produz e segrega insulina".
Em meio às aulas sobre a fisiologia das ilhotas, afirma Boschero, foi combinado um curso de pós-doutorado no Laboratório de Medicina Experimental dirigido por Melaisse na Universidade Livre de Bruxelas. "Lá permaneci por dois anos. Aprendi com ele a jamais fazer um experimento sem pensar no protocolo mais adequado, a ser econômico no gasto de animais e reagentes, e a jamais começar um novo projeto sem ter lido a literatura. Vários dos meus trabalhos mais citados são ainda daquela época".
Segundo o docente do IB, Melaisse voltou ao Brasil mais duas vezes para dar cursos (esta é a quarta vez), enquanto vários outros brasileiros foram orientados por ele em Bruxelas. "Curiosamente, após sua aposentadoria, o brasileiro Decio Laks Eizirik, que havia trabalhado conosco no IB, ocupa o cargo de diretor do Laboratório de Medicina Experimental. Os trabalhos publicados por brasileiros em colaboração com Malaisse, nos últimos 30 anos, chegam a perto de uma centena".
O pesquisador belga publicou mais de mil trabalhos científicos e duas centenas de capítulos de livros e revisões, com aproximadamente 25 mil citações. Recebeu vários prêmios por sua contribuição científica, destacando-se o Minkowski Price (1972) e o Claude Bernard Lacturer (2000). "É um dos investigadores mais produtivos das últimas décadas na área de biologia e medicina e, por vários anos, compôs a lista dos cientistas mais citados do mundo".
Antonio Boschero acrescenta que a formação de jovens pesquisadores nas décadas de 70 e 80 permitiu a concentração de vários grupos brasileiros que trabalham com a fisiopatologia das ilhotas, como no IB da Unicamp, Instituto de Biociências da USP e Faculdade de Medicina de Maringá. "O congresso do próximo ano do Islet Study Group, que faz parte da Associação Europeia para o Estudo de Diabetes, será organizado por brasileiros, mais especificamente por ex-alunos do professor Malaisse".
Ainda de acordo com Boschero, esta produção tem justificado financiamentos importantes para projetos na área, sendo que na Unicamp, com o apoio das duas últimas gestões, foi aprovada verba para a construção de um edifício que vai abrigar o Instituto de Obesidade e Diabetes, recentemente homologado por CNPq e Fapesp.
O reitor Fernando Ferreira Costa, que entregou o Honoris Causa a Willy Malaisse, observou que o homenageado possui uma obra cuja relevância transcende todas as regras que devem ser cumpridas para a outorga do título. "São mais de mil publicações, mas não é só isso o que importa. Durante sua vida, o professor Malaisse exerceu a atividade fundamental de formar pessoas, na Bélgica e em outros países. E nós, na Unicamp, tivemos a sorte de contar com pesquisadores orientados por ele".