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Homenagem recebida nos 45 anos da EPTV – por Carmino de Souza (1 notícias)

Publicado em 07 de outubro de 2024

A vida é feita de muitas surpresas, algumas delas realmente inesperadas e, talvez, inimagináveis.

Foi assim que recebi no início de setembro p.p. o convite feito pelo produtor da EPTV Fernando Esquisato, que ainda não conhecia pessoalmente, para comparecer na sede de Campinas no dia 07/09 (Dia da Independência do Brasil, sábado), para dar alguns depoimentos referentes aos 45 anos da EPTV.

Fui absolutamente tranquilo pois imaginava mais uma das inúmeras entrevistas que havia dado ao longo de minha vida a esta importante emissora de Campinas. Não tinha a menor ideia do que estaria por acontecer. Sempre tive e tenho um enorme respeito aos meios de comunicação pois sei que são pilares da democracia e grandes fiscais da sociedade. Meu contato amiúde com a imprensa e particularmente com a EPTV teve início em 1985 quando, após longa luta política dentro e fora da Academia, foi criado por decisão do Reitor da Unicamp Prof. José Aristodemo Pinotti, o Hemocentro de Campinas, primeiro serviço público de Hemoterapia de Campinas e região.

Após este início muito delicado e difícil de atividades transfusionais em nosso complexo hospitalar da Unicamp e da Prefeitura Municipal de Campinas, naquele momento, representado apenas pelo Hospital Mario Gatti, enfrentamos após pouco tempo de atividade, uma pandemia dramática ligada à transmissão do vírus HIV (naquele período chamado de HTLV III) através do sangue, componentes e derivados industriais. Em 1988, o Prof. Pinotti, agora Secretário de Estado da Saúde, me convocou para enfrentar uma das mais graves crises da hemoterapia paulista e brasileira e tentar “brecar” a transmissão do vírus HIV através das transfusões.

Neste período, passei a compartilhar meu trabalho entre a Unicamp e a Secretaria de Estado da Saúde (SES-SP). Assim, com o irrestrito suporte do Governo do Estado e o apoio das Universidades Paulistas, criamos a Hemorrede, programa vitorioso e que permanece até hoje tendo os Hemocentros como os seus grandes efetores.

Novamente, vivemos tempos difíceis (alguns anos), mas que, pouco a pouco e com muito trabalho, pudemos ir superando e controlando a transmissão e reduzindo os casos de AIDS adquiridos por transfusões sanguíneas. Sempre a imprensa esteve a nosso lado cobrando e noticiando as medidas tomadas e as orientações à sociedade. Tenho certeza de que, minha presença na SES-SP e o sucesso da Hemorrede, me alçaram ao maior cargo da saúde pública de São Paulo, a Secretaria Estadual de Saúde em 1993.

Neste ano ainda, criamos ainda a Unidade de Transplante de Medula Óssea da Unicamp, hoje com cerca de 2000 transplantes, mais de 30 anos de atividades ininterruptas. Novamente e sempre a imprensa junto comigo nas cobranças e notícias de relevo para a população. O SUS apenas começava; devo lembrar que a lei 8080 que regulamentou o SUS foi de 1990. Neste período de Secretário, consolidamos o SUS no Estado de São Paulo, enfrentamos a epidemia de cólera (sim, tivemos uma epidemia de cólera em São Paulo em 1993), dentro de um ambiente de extrema dificuldade econômica (quatro moedas em um ano, inflação de 45% ao mês etc.).

Novamente, conseguimos superar este período de dificuldade. Após a finalização de minha gestão a frente da SES-SP, fiz minha livre-docência em 1996 e fui para a Itália onde fiz o meu pós-doutorado em 1997-98, com o apoio da FAPESP. Voltando fiz os meus concursos para Professor Adjunto (hoje não existe mais) e Titular em 2001.

Sinceramente, não esperava voltar à gestão pública. Entretanto, em 2005 voltei a coordenar o Hemocentro de Campinas por mais seis anos. Assim, entre a primeira gestão e a segunda, foram 14 anos. Em 2012, tive um grave problema de saúde que consegui superar, felizmente.

Ainda em período de convalescência, fui convidado pelo Prefeito eleito de Campinas Jonas Donizette para assumir o cargo de Secretário Municipal de Saúde. Neste cargo, outros enormes desafios de gestão, os enfrentamentos de duas grandes epidemias de arboviroses (Dengue, Chikungunya, Zica e Febre Amarela) e nova pandemia, dramática em todos os sentidos, a do SarsCov2 (Covid-19).

Fui, até o momento, o Secretário de Saúde mais longevo de Campinas, tendo ficado oito anos no cargo. Trabalhamos para deixar um bom legado à cidade e à região de Campinas. Após o término de minha gestão passei a dedicar meu tempo à Academia e ao relato de minhas experiências como gestor público em nossa Cidade, Estado e País.

Assim, de maneira muito sumária, tento entender por que a EPTV me honrou com esta homenagem. Entendo que meu trabalho teve grande relevância aos olhos generosos da emissora. Sempre em minha vida pública procurei entender as funções de cada ente de controle, como os tribunais, o ministério público, os conselhos etc. O respeito a estas instâncias da sociedade e vice-versa ao trabalho dos gestores públicos é que fazem com que haja equilíbrio, maior competência e honestidade nas atividades realizadas.

A Saúde é e será sempre uma área de turbulência e embates. Mas, devemos sempre trabalhar e respeitar os papéis que cada instância exerce. É assim com a imprensa, foi e será sempre assim com a EPTV que me honra com um destaque em uma sociedade onde muitos poderiam ser agraciados talvez com mais mérito do que eu.

Mas, deixo aqui nesta minha coluna do Hora Campinas que me presenteia com este espaço, meus profundos agradecimentos à EPTV , as organizações Globo e a todos os seus colaboradores. Naquele sábado do dia 07 de setembro, pude confirmar o incrível profissionalismo da emissora. Me senti como estivesse em uma grande produção.

Uma feliz coincidência é que meu contrato de professor da Unicamp também é de 1979, portanto também são 45 anos de docência. Meus desejos são de muitos 45 anos à EPTV e que continuemos a cumprir nosso dever com a sociedade de trazer o melhor para a saúde pública e as melhores e mais corretas informações à sociedade.

Carmino Antônio de Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994), da cidade de Campinas entre 2013 e 2020 e Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022. Atual presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan e Pesquisador Responsável pelo CEPID-CancerThera-FAPESP.

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