Somente com investimento em pesquisa básica na área de engenharia cibernética será possível criar mecanismos de controle para garantir que tudo funcione adequadamente. É o que afirma o pesquisador alemão Frank Allgöwer
De veículos autônomos a fábricas e cidades inteligentes, a humanidade está construindo sistemas dinâmicos cada vez mais complexos, que trabalham em rede com alto grau de automação e de autonomia.
Nesse grande mundo interconectado que se avizinha, os humanos tendem a se tornar meros usuários desses sistemas dinâmicos complexos –não mais a força que os controla.
Portanto, somente com investimento em pesquisa básica – particularmente na área de engenharia cibernética – será possível desenvolver mecanismos de controle para garantir que tudo funcione de maneira adequada.
A avaliação foi feita por Frank Allgöwer, diretor do Instituto de Teoria de Sistemas e Controle Automático da Universidade de Stuttgart, na Alemanha, em palestra apresentada na sede da Fapesp.
“Ainda não entendemos muito bem como esses sistemas funcionam, como interagem e se organizam, mas ainda assim os estamos construindo. Embora pense que os efeitos positivos devem superar os negativos, fico hesitante em dizer que devemos acelerar nosso desenvolvimento tecnológico. Creio que este seria o momento de fazer a pesquisa básica alcançar as inovações tecnológicas que estão surgindo para que possamos realmente entender o que está acontecendo”, ponderou Allgöwer.
De acordo com o pesquisador alemão, a autonomia crescente e a estrutura em rede são as características-chave das inovações tecnológicas que estão surgindo na atualidade.
E a engenharia cibernética é a ciência básica que está no centro desse processo, pois possibilita por meio de métodos matemáticos e teoremas prever o funcionamento desses sistemas complexos e influenciar seu comportamento.
“Controlar um sistema dinâmico – como por exemplo um carro autônomo – é uma tarefa difícil, nada trivial. Requer, portanto, uma boa base teórica. Mas esse não é o fim da linha. No futuro, haverá muitos carros autônomos e eles terão de se organizar e conversar entre si, de modo a otimizar o trânsito, poupar energia, tempo e evitar acidentes. Essa rede terá de ser operada por controladores cibernéticos, pois nenhum humano consegue reagir rápido o suficiente para gerir uma rede tão complexa e da qual muitas vidas dependem”, exemplificou Allgöwer.
No futuro, acrescentou, a geração de energia não será mais concentrada em grandes usinas e sim distribuída em pequenas unidades individuais –formadas por geradores eólicos ou solares interconectados. Essas unidades terão de se organizar de modo a enviar energia onde há demanda, evitando falhas e interrupções no fornecimento.
Já nas fábricas, as linhas de montagem introduzidas na segunda revolução industrial estão dando lugar a estações de manufatura estruturadas em redes.
“Na indústria 4.0, se o robô de uma determinada estação quebrar ou estiver sobrecarregado, outro assume sua função e, nesse sistema interconectado, é possível produzir mercadorias de forma mais barata e eficiente”, disse.
Para Allgöwer, a crescente autonomia dos sistemas dinâmicos é a princípio algo positivo. Deve beneficiar a economia, os meios de trabalho, aumentar a qualidade de vida e a eficiência no uso de recursos, tornando as atividades humanas mais sustentáveis. Porém, pode haver perigos associados.
“Esses sistemas são tão complexos que os seres humanos não têm como acompanhar tudo o que está acontecendo. Os robôs terão todo o conhecimento sobre nós e vão influenciar tudo o que fazemos. Poderiam essas máquinas assumir o controle da sociedade?”, indagou.
Para responder a questões como essa, segundo Allgöwer, além de pesquisas em engenharia cibernética também serão necessários estudos em áreas como filosofia e ciências sociais. “É preciso que pesquisadores da área de humanas supervisionem o que os engenheiros estão construindo”, disse.