Se há quem ainda pense que Academia e cultura popular não podem caminhar juntas – uma ideia bizarra, é verdade, mas que ainda encontra ecos aqui e ali –, devia olhar com atenção a vida de Paulo Vanzolini. Zoólogo e cientista de primeiríssima grandeza, diretor por mais de cinco décadas do Museu de Zoologia da USP e autor, entre outras tantas coisas, da redação do projeto de lei que viria a criar a Fapesp, Vanzolini acabou mais conhecido extra-muros da Universidade como o incomparável autor de sambas do mais alto quilate. Entre eles Ronda, sua composição-síntese, um clássico do cancioneiro popular do País.
Foi justamente na USP, inclusive, que cientista e sambista se formaram. “Foi na Faculdade de Medicina, vendo a moçada se reunindo para cantar, que comecei a fazer música”, relembrou ele, certa vez. E o zoólogo-sambista (ou seria “sambista-zoólogo”?) deixou outra lição importante: a humildade. Nos dois meios pelos quais trafegou, o tamanho dos egos às vezes ganha contornos pantagruélicos. Mas não necessariamente com ele. Dizia que nunca havia ido atrás de fama ou de dinheiro. Era, segundo se caracterizava, “homem da paz”. E em paz ele se foi, no último domingo de maio.
E agora deixa que muitos rondem a cidade, a procurar outros homens como ele.