A batalha ganhou um capítulo feliz graças ao resultado de uma terapia genética inédita na América Latina, implantada pelo Centro de Terapia Celular (CTC) do Hemocentro, ligado ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP).
Castro, que é de Belo Horizonte (MG), mas estava em Ribeirão Preto desde 9 de setembro, não só respondeu bem ao tratamento, realizado em caráter experimental por pesquisadores do interior de São Paulo, como também teve alta após a constatação de que está “virtualmente” livre da doença – pelos próximos cinco anos ele continuará sendo acompanhado.
Mulher do paciente, Rosemary Castro volta otimista com o marido para Minas Gerais após ver de perto todo o sofrimento dele, que tomava doses máximas de morfina diariamente como tratamento paliativo para as dores recorrentes, além da perda de peso e das dificuldades para andar.
“Inacreditável, até porque são dois anos de luta e a gente não via nenhum resultado para nenhum tratamento, e agora nesses exatos 30 dias que nós estamos aqui a gente já vê uma mudança completa na saúde, na vida, em tudo dele”, diz.
A descoberta do câncer pegou de surpresa toda a família de Vamberto, que sempre teve um estilo de vida saudável, conta Rosemary.
“Sempre foi uma pessoa que gostava muito de praticar esporte, caminhada, uma saúde sempre muito impecável, não tinha vício nenhum. A gente não imagina nunca que de repente possa aparecer uma doença dessas que, de um minuto para outro, desestrutura tudo na vida da gente”, relata.
O primeiro sinal do linfoma, de acordo com ela, veio por meio de um caroço no pescoço do marido, que logo causou apreensão.
“A gente descobriu por um acaso. Ele olhando no espelho viu que tinha um caroço no pescoço e meu filho de imediato já ficou preocupado. Aí a gente já partiu pra procurar os médicos, pra fazer os exames, pra gente tentar descobrir o que estava acontecendo com ele.”
Quando o diagnóstico confirmou a má notícia, tudo que restou para a família foi correr atrás de alternativas. O prognóstico dado pelos médicos era de que Vamberto teria menos de um ano de vida.
As esperanças pareciam esgotadas depois que ele recorreu a quimioterapia e radioterapia e não obteve resultado, até que foi incluído em um protocolo de pesquisa do Centro de Terapia Celular em Ribeirão Preto, onde os médicos testaram a terapia genética inédita no Brasil.
Criada nos EUA, a técnica CART-Cell, que consiste na manipulação de células do sistema imunológico para combater as células causadoras do câncer, ainda é pouco acessível, com tratamentos comerciais que podem ultrapassar os US$ 475 mil.
“Meu filho foi buscando pra ver se tinha algum tratamento ainda que a gente pudesse usar pra salvar a vida dele, porque tudo que a gente já tinha feito até o momento não tinha surtido nenhum resultado para a cura dele”, conta Rosemary.
Segundo os médicos, após quatro dias de tratamento Vamberto deixou de sentir as fortes dores causadas pela doença e voltou a andar após uma semana. A recuperação deu uma nova perspectiva de vida para toda a família.
“Quando você tem uma doença na família dessa forma que você busca tratamento, busca saída e você não tem, você acaba morrendo com a pessoa. A partir do momento que você descobre um caminho desse, uma luz, você vê: poxa, eu tenho uma chance para viver, é maravilhoso.”
Segundo Rosemary, desde que descobriu a doença, Vamberto nunca desistiu, mesmo quando tudo parecia desfavorável. “Ele nunca desiste fácil das coisas, então a todo momento até que esse momento ele só dizia: eu quero viver. E graças a Deus a gente conseguiu.”
Os pesquisadores da USP – apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) – desenvolveram um procedimento próprio de aplicação da técnica CART-Cell, já utilizada nos Estados Unidos, Europa, China e Japão.
A estratégia consiste em habilitar células de defesa do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de reconhecer o tumor. O ataque é contínuo e específico e, na maioria das vezes, basta uma única dose.
Segundo Dimas Tadeu Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular do HC de Ribeirão, o procedimento um dia poderá ser reproduzido em outros centros de excelência do país, mas isso depende de laboratórios controlados com infraestrutura adequada.
De acordo com os envolvidos na pesquisa, antes de ser disponibilizado ao Sistema Único de Saúde (SUS), o tratamento precisa cumprir requisitos regulatórios da Anvisa. Um novo estudo clínico deverá incluir mais dez pacientes nos próximos seis meses.
Fonte: G1