Se nos habituamos ao mundo acadêmico que tem como lema publish or perish, há um outro lado nesse mundo para o qual Diniz & Terra (2014: 117) chamaram a atenção: “Nada mais constrangedor para o currículo de um pesquisador que ter uma coleção de artigos retratados“. Uma publicação retratada compromete o currículo de seu(s) autor(es), como comentamos anteriormente (Rosa, 2018: 63ss; neste blogue: Posso citar um trabalho que foi retratado? Parte 1;Posso citar um trabalho que foi retratado? – Parte 2 ).
Mas ninguém falava de retratação há um tempo atrás!
O número de retratações é bem maior agora que há 15 ou 20 anos, por exemplo: até o ano 2000 eram em média 100 ao ano (Brainard & You, 2018); mas em 2010 foram 5.190, em 2011, chegaram a 3.149. Desde então parece haver uma tendência de queda nesse número: em média em torno de 1.200 retratações de 2013 a 2018, com leves decréscimos e algumas oscilações, e uma grande queda, para 462, em 2019 (Retraction Watch Database). Essa curva se reflete na área da Linguística, por exemplo: uma consulta a essa mesma base retorna um caso em 1996, outro em 2007, três em 2009; para 2010 e 2011 retorna, respectivamente, 27 e 9. A partir de então parece haver uma tendência de queda, havendo em 2019 apenas um caso.
A subida em 2010 se segue ao lançamento pelo COPE/ Committee on Publication Ethics, no ano anterior, de um guia para os editores de periódicos científicos de como lidar com as retratações. A versão atual, de 2019, do Retraction Guidelines pode ser baixada de https://publicationethics.org/files/retraction-guidelines.pdf.
A difusão de softwares para a detecção de plágio e para a detecção de manipulação de imagens são agora instrumentos para editores científicos. Por outro lado, autores de manuscritos a serem submetidos a um periódico têm mais consciência de diretrizes a serem seguidas no trabalho científico, uma vez que universidades e agências de fomento no país têm divulgado uma série de documentos a esse respeito. Alguns deles:
as Diretrizes sobre integridade acadêmica da UFRJ/Universidade Federal do Rio de Janeiro: https://www.if.ufrj.br/~pef/regulamentos/DiretrizesIntegridadeAcademica-UFRJ-2015.pdf a cartilha sobre plágio da UFF/ Universidade Federal Fluminense: http://www.noticias.uff.br/arquivos/cartilha-sobre-plagio-academico.pdf a coleção Integridade na pesquisa, da PUC-RS: https://editora.pucrs.br/Ebooks/Web/integridadenapesquisa/index.html , em que ressaltamos o trabalho de Lívia Haygert Pithan A Autoria nas Pesquisas de Iniciação Científica as Diretrizes sobre Ética e Integridade na Prática Científica do CNPq: http://cnpq.br/documents/10157/a8927840-2b8f-43b9-8962-5a2ccfa74dda as orientações da CAPES de combate ao plágio: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/diversos/OrientacoesCapes_CombateAoPlagio.pdf o Código de boas práticas científicas da FAPESP: http://www.fapesp.br/boaspraticas/codigo_050911.pdf o Código Europeu de Conduta para a Integridade da Investigação da ALLEA/ ALL European Academies: https://www.allea.org/wp-content/uploads/2018/11/ALLEA-European-Code-of-Conduct-for-Research-Integrity-2017-Digital_PT.pdf
DINIZ, Débora & TERRA, Ana. 2014. Plágio: palavras escondidas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.