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Há 200 milhões de anos, mudanças climáticas foram essenciais para dinossauros espalharem-se pelo planeta (1 notícias)

Publicado em 11 de janeiro de 2023

Aumento da umidade relacionado com o surgimento de novos oceanos permitiu a grupo de dinossauros alcançar áreas de clima tropical

Num período entre 230 e 180 milhões de anos antes da nossa era, as mudanças climáticas foram essenciais para um importante grupo de dinossauros, os sauropodomorfos, espalhar-se pelo planeta. Em artigo publicado na revista Current Biology, um grupo de pesquisadores, com participação da USP, usou dados obtidos em fósseis e simulações meteorológicas para estimar as condições climáticas da época. A pesquisa aponta que há 230 milhões de anos, as regiões tropicais tinham grandes variações de temperatura e chuvas, o que limitava a presença dos sauropodomorfos a locais de clima mais ameno, distantes dos trópicos. A situação muda com o aumento da umidade, relacionado com o surgimento de novos oceanos a partir da fragmentação do supercontinente Pangeia, por volta de 200 milhões de anos, que vai permitir ao grupo alcançar áreas de clima tropical.

O período abordado pela pesquisa estendeu-se do Triássico Superior até o final do Jurássico Inferior, entre 230 e 180 milhões de anos antes dos tempos atuais. “Ele foi selecionado pois engloba os primeiros milhões de anos de evolução dos dinossauros, o evento de extinção acontecido na transição do Triássico para o Jurássico, há 200 milhões de anos, e o período de expansão da distribuição geográfica de alguns grupos, durante o Jurássico Inferior”, relata ao Jornal da USP o paleontólogo Pedro Godoy, pós-doutorando da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), um dos autores do trabalho. “Nesse período, o que vemos na disposição dos continentes é que o supercontinente Pangeia estava dividido em dois principais blocos: Laurásia ao Norte, que incluía a América do Norte, Europa e Ásia, e Gondwana ao Sul, que incluía a América do Sul, África, Antártica, Austrália, Índia e Madagascar.”

Pedro Godoy – Foto: Reprodução/Fapesp

O objetivo do estudo foi tentar entender os mecanismos por trás dos primeiros milhões de anos de evolução dos dinossauros, logo após sua origem. “Surgidos no final do período Triássico, conhecido com Triássico Superior, há 230 milhões de anos, esses animais eram inicialmente mais restritos geograficamente do que após a extinção do Triássico-Jurássico, além de serem relativamente menos diversos que alguns outros grupos de tetrápodes, que são vertebrados com quatro membros”, aponta o paleontólogo. “Por isso, estudos anteriores sugeriram que os dinossauros teriam ‘vencido a competição’ com esses outros animais após o evento de extinção. No entanto, pouco se sabia sobre o papel do clima do período em sua evolução inicial. Para testar a ‘hipótese da competição’ e também o impacto das mudanças, usamos dados de modelos climáticos do passado para estudar, de maneira quantitativa, a evolução dos nichos climáticos do grupo.”

Os dados climáticos empregados no trabalho incluem temperatura e precipitação média anual, além da variação sazonal de temperatura. “Eles vêm de modelos que combinam informações ambientais do registro fóssil e simulações meteorológicas para gerar dados altamente precisos. Assim, nós temos dados ‘paleoclimáticos’ para cada uma das localidades onde os fósseis de dinossauros foram encontrados”, explica Godoy. “Em geral, o Triássico foi um período mais quente e seco, ao passo que o Jurássico é caracterizado por um aumento da umidade, relacionado à fragmentação do supercontinente Pangeia, que deu origem a novos oceanos. Alguns estudos também sugerem que o Triássico possuía variações sazonais mais drásticas, mesmo em regiões tropicais.”