Verdadeiro pesadelo para quem lida com produtos alimentares ou com lentes de alta precisão e um dos mais temidos vilões dos dermatologistas, os fungos podem ser, também, grandes aliados do homem. Sem eles, o equilíbrio de muitos ecossistemas, terrestres e aquáticos, seria rompido, e a vida, ali, se tomaria inviável. Ao transportar nutrientes e decompor a matéria orgânica, os fungos são indispensáveis para os vegetais, e sua extinção pode acarretar sérias conseqüências para a manutenção da subsistência do homem, explica a bióloga Iracema Helena Schoenlein-Crusius, professora do curso de pós-graduação na área de Microbiologia Aplicada do Instituto de Biociências (IB) da UNESP, campus de Rio Claro.
Coordenadora do projeto Estudo de Fundos em Ambientes Terrestre e Aquático: uma contribuição para a avaliação e conservação da biodiversidade, realizado na represa de Guarapiranga, importante fonte de abastecimento de água para a cidade de São Paulo (veja quadro), e no rio Monjolinho, em São Carlos, a 300 km da Capital, a bióloga estuda os fungos presentes nessas regiões.
MEDIDAS URGENTES
Como o conhecimento dos fungos que habitam a represa permite conhecer melhor o meio ambiente. Iracema recomenda medidas urgentes para reverter o quadro ambiental desolador da região e melhorar a qualidade das águas do reservatório. O projeto também indica a necessidade de um estudo das propriedades físicas do solo das margens e das ilhas da represa para a recuperação das condições do terreno e, com isso, garantir a qualidade de água para o abastecimento.
Para chegar a essas conclusões. Iracema, que conta com o auxílio do biólogo Christian Wellbaum, mestrando no IB, realizou, entre os meses de agosto de 1997 e agosto de 1998, coletas bimestrais de amostras do solo, do folhedo e das águas em seis pontos da represa. O passo seguinte é a identificação dos fungos presentes nas amostras. Já constatamos a presença de 45 espécies, 14 delas encontradas pela primeira vez no Brasil, conta Wellbaum. Uma surpresa do projeto, financiado pela Fundação de Amparo â Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi a presença de diversas linhagens do fungo do gênero Penicillium, utilizado na produção de antibióticos e na fabricação de alguns queijos. Essa incidência recomenda estudos mais específicos do fungo na área e das suas potencialidades para a produção de novos medicamentos, comenta a coordenadora do projeto, que se encerra em dezembro próximo. Ao estudar tanto o ambiente terrestre como o aquático, comparando a diversidade das micotas (populações de fungos) nas regiões que sofreram diferentes interferências humanas. Iracema pode avaliar a resistência deles e saber onde é possível encontrá-los. Ao acumularem materiais tóxicos, relerem umidade e serem consumidos por organismos como os ácaros, os fungos apresentam interações complexas entre si, que podem envolver a produção de remédios, conclui a bióloga.
Notícia
Jornal da Unesp