Desenvolvido por pesquisadores da USP, processo propõe usar partículas de sílica revestidas com melanina em formulações para proteger a pele não só dos raios UVA e UVB, como também da luz visível
Cientistas vinculados ao Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina Redoxoma ) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um método para obter partículas de sílica revestidas com potencial uso na fabricação de filtros solares mais naturais, ecológicos, seguros e com proteção mais ampla.
O processo criado no Redoxoma – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão ( CEPID ) da FAPESP – teve a “Patente de Invenção” recentemente concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no âmbito do projeto “Processo de obtenção de nanossílica revestida e seu uso”.
“Os fotoprotetores utilizados atualmente atuam muito bem contra os efeitos da radiação ultravioleta B [UVB], que penetra nas camadas mais superficiais da pele. Ou seja, são eficazes em evitar vermelhidão e outras reações inflamatórias agudas que acontecem durante a exposição solar e nas horas posteriores”, explica Mauricio da Silva Baptista , professor do Departamento de Bioquímica do IQ-USP e coordenador do trabalho, conduzido durante o mestrado de André José Cardoso de Miranda, defendido em 2016.
“Porém, protegem apenas parcialmente contra os raios UVA, causadores de fotoenvelhecimento, câncer, catarata e degeneração macular relacionada à idade. Além disso, deixam passar completamente a luz visível, faixa espectral que forma os maiores níveis de radicais livres por exposição ao Sol. Isso é um problema, já que é comprovado que todas as células da pele respondem a essas radiações e que seu excesso produz um dano razoavelmente severo, com consequências crônicas, como envelhecimento celular”, acrescenta Baptista.
No novo processo, partículas de sílica são sintetizadas e revestidas com um filme ultrafino de melanina, capaz de impedir que esses raios atinjam e sejam absorvidos pelo DNA presente no núcleo das células da pele. “Essa é a grande vantagem comercial prevista para a invenção”, afirma Baptista.
Por envolver apenas produtos naturais (partículas de sílica são basicamente um derivado da areia e melanina é um polímero natural proveniente do aminoácido tirosina), o processo dá origem ainda a um protetor mais ecológico. “Muitos filtros solares comerciais estão sendo banidos porque algumas de suas moléculas, como o dióxido de titânio, causam danos significativos no meio ambiente, como a morte de corais”, lembra Baptista.
Outra vantagem é que não há risco de danos sistêmicos, já que a partícula não penetra na pele como alguns fotoprotetores comerciais – aos quais já foram associados efeitos equivalente à ingestão de hormônios.
Baixo custo
O método patenteado tem ainda outra vantagem: se desenvolvido e escalado pela indústria cosmética, pode ter um custo acessível. Isso porque a enzima tirosinase, usada na síntese da melanina, não está ligada diretamente à partícula de sílica – o que aumenta sua atividade catalítica (de acelerar a transformação de tirosina e melanina) e permite o reaproveitamento desse insumo.
“Nossa expectativa é que, com a patente concedida, consigamos nos aproximar de empresas para desenvolver o filtro solar em nível comercial, especialmente porque não há nada nem remotamente semelhante a nosso processo no mercado”, diz Baptista.
De acordo com o pesquisador, o que mais se aproxima da tecnologia são os BB Creams com cor, que são feitos com óxidos de ferro e possuem fator de proteção solar (FPS) e também protegem da luz visível. No entanto, segundo o pesquisador, esses produtos também podem trazer consequências desfavoráveis para o organismo e para o meio ambiente.
Patente obtida pelo grupo do Redoxoma tem prazo de validade de 20 anos, contados a partir de outubro de 2016. Está disponível nas bases de patentes internacionais e do INPI.
Julia Moióli | Agência FAPESP