Primeira doença viral transmitida por mosquitos a ter uma vacina licenciada, a febre amarela há séculos tem sido precursora no entendimento de como surgem e devem ser combatidas as epidemias.
Os sucessivos surtos e o elevado número de mortos pela doença marcaram a história das Américas desde que foi introduzida no continente no século 17. Epidemias de febre amarela estiveram associadas ao tráfico de pessoas escravizadas, a corrida do ouro e ocupação do “velho oeste” dos Estados Unidos, a revolução do Haiti e ainda a disputa geopolítica pelo canal do Panamá, apenas para citar alguns exemplos.
Séculos depois do primeiro registro da doença nas Américas, uma equipe internacional de pesquisadores iniciará mais um estudo pioneiro no campo das epidemias, desta vez com o objetivo de monitorar e desenvolver modelos de predição de ressurgências não só de epidemias de febre amarela, mas também de outros vírus transmitidos por mosquitos (arboviroses), como dengue, zika e chikungunya.
“Temos um conhecimento muito bem estabelecido sobre os ciclos dessas doenças e sobre possíveis novos surtos. No entanto, falta ainda um conhecimento sistêmico que determine quando ocorrerá uma nova epidemia. Nosso objetivo é monitorar e criar modelos preditivos para poder antecipar ações de combate e proteção da população, além de entender melhor a conjunção de fatores que levam a novos surtos”, diz Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e integrante do grupo de pesquisa Create-NEO, projeto financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dos Estados Unidos.
A nova pesquisa é desdobramento de um Projeto Temático apoiado pela FAPESP, cujo objetivo foi monitorar a população de mosquitos em ambiente urbano na região de São José do Rio Preto (SP) e a população de macacos e mosquitos em ambiente de transição entre as zonas rural e urbana de Manaus (AM).
Além da Famerp, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Fundação de Medicina Topical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), o projeto inclui centros de pesquisa nos Estados Unidos, entre eles The University of Texas Medical Branch (UTMB), New Mexico State University (NMSU), Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Cary Institute of Ecosystem Studies. Também participa o Instituto Conmemorativo Gorgas de Estudios de la Salud (ICGES), no Panamá, entre outros parceiros.
Para marcar o início do projeto, os pesquisadores publicaram um artigo na revista Emerging Topics in Life Science, no qual revisam os fatores que influenciam o potencial de reemergência da febre amarela.
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