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Grupo de historiadores da Unesp resgatam em pesquisas a cultura luso-brasileira

Publicado em 11 janeiro 2020

A língua e a constituição de um vocabulário partilhado têm se mostrado campo fértil de possibilidades para o estudo das sociedades humanas no tempo. Inspirado em tais possibilidades, o grupo Escritos sobre os Novos Mundos, formado por historiadores da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), surgiu com o propósito de construir uma história dos modos de produção social da verdade em língua portuguesa.

Inicialmente voltado para a constituição de bancos de dados digitais de documentos que interessam à história das construções culturais em língua portuguesa, o grupo sentiu necessidade de verticalizar as discussões relativas ao corpo teórico utilizado para interrogar as séries documentais que vinha criando.

Para isso, foi estabelecido um amplo programa de estudos acerca de duas das principais linhagens teóricas que orientavam as pesquisas dos membros – utilizando autores como Michel Foucault, Paul Veyne e Richard Rorty. Além disso, incorporaram outros pesquisadores que se deparavam com questões semelhantes.

Para Bruno César, aluno de História da Unesp e integrante do Escritos sobre os Novos Mundos, “os trabalhos realizados no grupo, apesar de sempre contarem com a marca individual de cada pesquisador, são fruto de um esforço conjunto e profissional de debate e compartilhamento de ideias, que acontecem, principalmente, devido às reuniões recorrentes, nas quais todos expõem seus trabalhos e compartilham suas dificuldades aos outros”, relata o estudante.

O resultado do projeto se dá a partir da abordagem de uma história da construção de padrões morais e dos modos de produção da verdade em língua portuguesa. Por outro lado, e complementarmente, os desdobramentos implementados nos novos bancos de dados em construção são explicitados.

“Fazer parte do grupo tem sido uma das experiências mais relevantes da minha graduação em História. Isso se deve, sobretudo, ao profissionalismo prezado pelos membros, que sempre buscam realizar seus trabalhos com extrema seriedade e respeito pela profissão. Sob a tutela de Susani França (pesquisadora principal) e Jean Marcel Carvalho (coordenador), o grupo tem promovido diversas publicações e eventos no campo da História Medieval e da História do Brasil, de modo a pensar temas ligados à cultura e à moralidade em língua portuguesa, construindo um conteúdo original e fértil para especialistas ou não no assunto”, destaca Bruno.

Com o propósito de oferecer gratuitamente ao público, especializado ou não, acesso a edições digitais de documentos e obras raras da cultura luso-brasileira, o grupo Escritos sobre os Novos Mundos, em parceria com a Fapesp, com a Fundação Editora da Unesp (selo Cultura Acadêmica) e com a Academia Portuguesa da História, lançou uma coleção de e-books nomeada Memória Atlântica.

As edições, que abarcam documentos inéditos, como obras nunca antes publicadas em português e obras cujas impressões estão hoje inacessíveis, são precedidas por uma introdução histórica, composta por um ou mais especialistas e seguida da versão integral do escrito, anotada e com ortografia e pontuação modernizadas.

Visando contribuir com o processo de construção da memória e da identidade nacional, deste e do outro lado do Atlântico, a iniciativa que ganhou forma em 2018 está disponível para download gratuito no site da Cultura Acadêmica.

Confira as obras:

Tratado sobre medicina que fez o Doutor Zacuto para seu filho levar consigo quando se foi para o Brasil; autores: Ana Carolina de Carvalho Viotti e Gabriel Ferreira Gurian;

Dois escritos astrológicos sobre o dilúvio de 1524; autora: Simone Ferreira Gomes de Almeida;

A Livraria de Frei Gaspar da Madre de Deus (volume III da Coleção Memória Atlântica); autor: Jean Marcel Carvalho França;

Ensino Cristão; autor: Leandro Alves Teodoro.

Cultura e pesquisa lado a lado

Os questionamentos a respeito da forma da produção do conhecimento levam a quase um consenso sobre o mundo ter se tornado mais complexo. Individualmente é mais difícil construir o conhecimento – e o estímulo à formação de grupos de pesquisa por parte de universidades e órgãos de fomento atestam essa realidade e são capazes de alterá-la.

Por outro lado, também é consenso a necessidade de buscar o diálogo com outras áreas do conhecimento e alcançar a interdisciplinaridade. Daí a importância de grupos de pesquisa dentro da academia.

“Acredito que tal postura seja ideal dentro de um ambiente acadêmico que preza pelas investigações científicas, visto que a seriedade, o profissionalismo e a troca de ajudas mútuas são de suma importância tanto para aqueles pesquisadores de longa data como para aqueles que estão começando na área”, finaliza o pesquisador Bruno César.