Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, identificaram no sangue de pacientes um anticorpo capaz de se ligar de forma muito específica ao vírus Zika, o que possibilitou o desenvolvimento de um teste para fazer o diagnóstico sorológico da doença.
Os ensaios feitos para validar a nova metodologia serão publicados em breve na revista PLoS Neglected Tropical Diseases. Dados preliminares foram apresentados por Esper Kallás, professor da FMUSP, na Escola São Paulo de Ciência Avançada em Arbovirologia. Apoiado pela FAPESP, o evento vai até 9 de junho em São José do Rio Preto.
“Os anticorpos habitualmente identificados em pacientes com Zika apresentavam reação cruzada com o vírus da dengue. Os testes sorológicos disponíveis até o momento, portanto, podem passar por problemas para discriminar quem efetivamente já foi infectado pelo Zika no passado”, disse Kallás à Agência FAPESP.
A estratégia usada pelo grupo da USP e colaboradores foi analisar uma célula do sangue conhecida como plasmablasto em pacientes com diagnóstico confirmado de Zika por testes moleculares (capazes de detectar a infecção apenas em sua fase aguda, logo após a circulação do RNA viral no organismo).
“Fizemos o sequenciamento de cada uma dessas células sanguíneas para identificar as moléculas de imunoglobulinas que elas estavam produzindo. Um dos anticorpos encontrados, que chamamos de P1F12, só foi capaz de se ligar ao vírus Zika, sem reação cruzada com o causador da dengue”, contou.
Caso o teste sorológico se mostre realmente eficaz para discriminar pessoas previamente infectadas pelo vírus Zika, terá diversas utilidades. Poderá, por exemplo, auxiliar na avaliação dos riscos de mulheres grávidas que necessitem viajar para uma região onde estejam ocorrendo casos da doença. “Se ela souber com certeza que teve Zika no passado, poderá viajar com certa tranquilidade. Caso contrário, deverá tomar mais cuidados”, disse Kallás.
Permite ainda que autoridades de saúde pública consigam estimar a porcentagem de pessoas suscetíveis (nunca antes infectadas) ao vírus em uma determinada população, o que pode ajudar a prever a ocorrência de novos surtos e a organizar os serviços de assistência.
A metodologia poderá contribuir com futuros estudos voltados ao desenvolvimento e validação de vacinas contra a dengue e contra o Zika. “Para fazer esse tipo de pesquisa é importante saber se o participante já teve uma ou outra doença, ou as duas anteriormente, pois isso pode influenciar o resultado. Um teste sorológico capaz de discriminar bem os casos ajudaria a economizar muitos recursos”, disse Kallás.
Agência Fapesp