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Gravidez: Influência na decisão (1 notícias)

Publicado em 13 de fevereiro de 2008

Por Thiago Romero, Agência FAPESP

Um estudo conduzido por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) apontou que, embora apenas 34% das gestantes atendidas em duas maternidades privadas do Rio de Janeiro tenham manifestado preferência pela cesariana nos primeiros meses de gravidez, 89,7% delas acabaram realizando esse tipo de parto operatório.

O trabalho, coordenado por Silvana Granado Nogueira da Gama, do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da ENSP, foi realizado com base em entrevistas e consultas aos prontuários de 437 grávidas de diferentes classes sociais, faixas etárias e níveis de escolaridade.

As entrevistadas foram acompanhadas, em 2006 e 2007, durante todo o período de gestação e os dados foram comparados ao tipo de parto realizado. A pesquisa foi encomendada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e realizada em parceria com a Universidade Federal Fluminense e com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

"Ao fim da gestação, o desejo pelo parto cesáreo havia crescido para 74%, comparado aos 34% do estágio inicial. Isso revela uma forte influência na decisão da mulher sobre o tipo de parto durante o período pré-natal, sobretudo por parte dos profissionais que fizeram o acompanhamento médico", disse Silvana à Agência FAPESP.

Segundo ela, a justificativa para esse crescimento da preferência incluiu principalmente complicações como hipertensão e alto peso do feto. Outros motivos para a escolha pela cesariana foram medo da dor no parto normal, histórico familiar e experiência de partos anteriores.

Do total de cesáreas realizadas (89,7%), em apenas 7,6% as pacientes haviam entrado em trabalho de parto. "As demais tiveram cirurgias pré-agendadas, o que é um enorme problema, especialmente para o recém-nascido, uma vez que eleva o risco de partos prematuros e óbitos neonatais", explicou a epidemiologista.

No Rio de Janeiro são realizados por volta de 82 mil partos por ano, sendo 20 mil em hospitais privados. "Desses, cerca de 90% são cesarianas, contra 35% de cesáreas realizadas na rede pública, dos cerca de 62 mil partos restantes. Considerando todo o país, a estimativa é que aproximadamente 40% dos partos sejam por cesariana", disse.

Segundo a pesquisadora, para a maioria dos médicos não é conveniente, do ponto de vista financeiro, aguardar pelo parto normal. "O trabalho de parto chega a demorar mais de dez horas e, nesse tempo, os profissionais podem realizar mais de uma cesariana e também outras atividades no consultório."

"Sabemos que tanto os serviços de saúde públicos como os privados pagam o mesmo valor para os dois tipos de parto. E a maior praticidade e rapidez acabam gerando uma banalização da cesariana no país", destacou.