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Brasil Econômico

Governo libera R$ 336 milhões a incubadoras

Publicado em 10 novembro 2009

Um programa de incentivo do governo federal vai começar a tornar mais fácil a vida de 1.401 empresas inovadoras, pelo menos no terreno financeiro. Chamado de Primeira Empresa Inovadora, e apelidado Prime, o programa lançou um edital em março de 2009 para distribuir R$ 336 milhões em incentivos e acaba de escolher as primeiras beneficiadas para receber R$ 120 mil cada. Os recursos serão dados a empresas instaladas em incubadoras de universidades em nove estados brasileiros.

A subvenção à inovação tecnológica de empreendedores já vem sendo feita pelo governo há 25 anos quando surgiu a primeira política pública oficial, mas este é o primeiro programa do gênero voltado para incubadoras. A verba destinada às empresas selecionadas não é um financiamento, mas sim um investimento do governo federal. Assim, os recursos não precisam ser pagos pelas empresas. As 17 incubadoras-âncora que operam o programa em todo o Brasil vão liberar a primeira parcela do financiamento, no valor de R$ 60 mil, ainda no mês de dezembro. Para o primeiro ano de operação do Programa, foram disponibilizados recursos da ordem de R$ 230 milhões, dos quais cerca de R$ 84 milhões serão liberados em dezembro. Depois de um ano, o governo fará uma análise do que foi desenvolvido e as escolhidas poderão receber mais recursos, desta vez como financiamento por 12 meses, mas com juro zero.

Perfil diferenciado

O investimento direto nas incubadoras visa intensificar o apoio a novos empreendedores. Segundo Francilene Procópio Garcia, vice-presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), os empreendedoras costumam ter características diferenciadas dos empresários comuns. "Normalmente, quem tem um perfil empreendedor sabe e acredita no que está investindo, realiza um sonho e não simplesmente investe um dinheiro em alguma coisa", afirma.

A inovação é o principal requisito para a entrada de um novo empreendimento nas incubadoras. O apoio dados pelos centros se reflete no sucesso das empresas. Prova disso é que aquelas que começam nas incubadoras apresentam taxa de mortalidade 18 pontos percentuais menor do que as outras, segundo Francilene. A inexperiência vira vantagem para esses empreendedores. Como em toda incubadora, a seleção é acirrada.

Pelo número de inscritos de inovadores inscritos nelas, 3.152 ao todo, percebe-se que o universo é pequeno perto das firmas abertas no Brasil, que chegam a 4,4 milhões segundo a última estimativa do IBGE, de 2007. Ou seja as pretendentes não são nem 1% das empresas do país.

De acordo com o Global Entrepeneurship Monitor (GEM) de 2008, que mede o nível de empreendedorismo em 43 países do mundo, no Brasil, para cada 100 empresas existentes, apenas 12 são empreendedoras, ou seja, apresentam inovação ao mercado. A proporção tem ficado nesse patamar nos últimos anos. O Brasil "ocupa a 13a posição no ranking mundial, segundo a pesquisa. Mas nem tudo é alentador nos resultados da pesquisa. "Se o dado é motivador, ele traz algumas peculiaridades. Grande parte dos empreendedores são chamados empreendedores por necessidade, investindo em algo muitas vezes sem inovação", afirma Francilene.

Incentivo

Créditos de R$ 1 bilhão O Prime vai patrocinar três rodadas de editais até 2011, contemplando cerca de cinco mil empresas e um investimento de R$ 650 milhões de subvenção. Somando-se a este valor o adicional em crédito e capital de risco, o total de recursos disponibilizado será superior a R$ 1 bilhão. Os investimentos do governo têm a intenção de alavancar a economia e melhorar a cultura empreendedora no país.

Inovação e persistência

Para José Maciel Rodrigues Júnior, um empreendedor tem características como buscar a inovação e persistência para fazer valer suas ideias. O pesquisador defende que é preciso ter condições para desenvolver e explorar essas características, papel das incubadoras. Sua opinião é compartilhada pela vice-presidente da Anprotec, Francilene Procópio, que apoia as ações de incentivo do governo.

Diretor da Nanocore avalia benefícios de investimento em incubadoras

A Nanocore nasceu de um projeto de pesquisa entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de São Paulo (USP) para o desenvolvimento de vacinas recombinantes. Foi abrigada na Supera, centro incubador da USP em Ribeirão Preto, em 2003, onde residiu por dois anos e um mês. Em 2006, já graduada, foi para Campinas. Os sócios fundadores, José Maciel Rodrigues Júnior e Karla de Melo Lima, resolveram investir em biotecnologia. Em 2009, a empresa ganhou o prêmio de melhor empresa graduada da Anprotec. Segundo José Maciel, o apoio que as incubadas recebem faz toda a diferença em seu desenvolvimento e sustentação. "Quando fundamos a empresa, não tínhamos experiência em gestão de negócios, o apoio foi fundamental", afirma.

Além disso, a Nanocore recebeu alguns financiamentos de projetos do governo. "A maioria dos financiamentos são não reembolsáveis, o que ajuda muito quando se está começando", afirma José Maciel. Outro grande diferencial é que as empresas incubadas recebem, além disso, investimentos para contratação de profissionais especializados. "Um dos nossos financiamentos foi para investirmos em mão de obra", afirma o empresário. "Conseguimos aumentar assim o número de mestres e doutores dentro da Nanocore." As características empreendedoras também são fundamentais segundo o empresário. "Acredito que ser empreendedor é uma característica que está presente em algumas pessoas, e é preciso criar um ambiente propício para isso se desenvolver. Só pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), a empresa já recebeu cinco financiamentos, totalizando R$ 3 milhões.