O Conselho Monetário Nacional (CMN) votará, no próximo dia 28. os recursos destinados à estocagem do café. O valor será suficiente para a retenção de 7 milhões de sacas (60 quilos) da safra atual. Os cafeicultores, no entanto, solicitam recursos para a retenção ainda maior, de cerca de 10 milhões de sacas.
A verba para o financiamento ainda está sendo discutida entre os técnicos dos Ministérios da Agricultura. Pecuária e do Abastecimento (Mapa) e da Fazenda, mas as estimativas do setor cafeeiro apontam para algo em torno de RS 700 milhões. "Queremos dar recursos para que. de maneira voluntária, o produtor estoque café", afirma Pedro Camargo Neto. secretário de Produção e Comercialização do Mapa.
De acordo com Camargo Neto, o governo pretende propor uma espécie de Empréstimo do Governo Federal (EGF) para os produtores segurarem o café até a melhor época de venda, com juros de 8.75% ano. Os valores serão liberados a partir de maio. quando inicia-se a colheita do grão. O recurso é necessário porque os preços da commodity são considerados os mais baixos dos últimos 30 anos. Além disso, este ano o Brasil colherá a sua segunda maior safra de café da história, de cerca de 40 milhões de sacas. O secretário acredita que ainda este ano, em função da perspectiva de menor safra em 2003. haverá reação nos preços da commodity.
Além dos recursos para a estocagem, Camargo Neto anunciou ainda a liberação, a partir do mês de abril, da verba destinada para a colheita. O valor, anunciado no ano passado, foi de R$ 250 milhões.
A retenção este ano é diferente da proposta feita no passado. À época, o programa foi efetuado basicamente entre os exportadores e agora, diretamente pelos produtores. Além disso, em 2001 um dos países produtores, o Vietnã, não cumpriu o acordo mundial de retenção.
Apesar de o anúncio de Camargo Neto não atender às reivindicações do setor, João Roberto Pulit, presidente da Comissão de Café da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), considera que já é uma sinalização de ajuda oficial.
Na próxima terça-feira, os cafeicultores se reúnem com o ministro Marcus Vinícius Pratini de Moraes, para solicitar recursos de R$ 1 bilhão para a estocagem de 10 milhões de sacas de café verde em grão beneficiado. Eles pedem ainda a liberação dos RS 250 milhões destinados para a colheita.
Pulit quer que os cafeicultores possam carregar os estoques por até 18 meses, prorrogáveis por igual período. "Segurando este volume, teremos uma safra para atender ao mercado interno este ano e em 2003", afirma. Pulit acredita que, com esta medida, os preços subirão, e passarão da média atual de RS 115 a saca para R$ 140 a saca.
Para Pulit, a simples implantação do programa será suficiente para o início da recuperação dos preços.
CIENTISTA DECIFRARÁ CÓDIGO GENÉTICO
Os produtores de café vão ter acesso a melhores variedades a partir do próximo ano. Cientistas brasileiros iniciaram um trabalho para decifrar o código genético do café, ao dar início à identificação de 200 mil seqüências de genes, projeto denominado Genoma EST-Café.
Segundo técnicos, o objetivo do programa é avaliar a resistência da planta a doenças, a pragas, ao frio e à seca. e reduzir o custo de produção com agrotóxicos entre 50 a 100% e aumentar a produtividade em até 50%. Os recursos, estimados no total em RS 6 milhões, virão do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) e o programa tem o apoio do Conselho Deliberativo de Política Cafeeira (CDPC).
Segundo o coordenador do programa, Luiz Gonzaga Vieira, do Instituto Agronômico do Paraná (lapar), de Londrina (PR), com o maior número de informações genéticas da planta será possível antecipar entre 10 e 20 anos o tempo de desenvolvimento de novas variedades do café. "Uma nova variedade de café leva hoje entre 25 e 30 anos para ser lançada. Com o trabalho, sairá em até 15 anos."
O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café) é coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa-Café e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e terá o apoio de diversas entidades de pesquisa, entre elas o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Notícia
Gazeta Mercantil