Ministério da Saúde alega que estuda um novo modelo com IBGE, mas órgão diz que não tem informações há meses
O Ministério da Saúde alega que trabalha em conjunto com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde que a parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) foi encerrada.No entanto, o próprio IBGE afirma que não tem nenhum detalhe dos planos da pasta comandada pelo general Eduardo Pazuello.
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Especialistas afirmam que há falta de interesse do governo, especialmente do alto escalão do Ministério, em compreender a situação da epidemia por meio de pesquisas continuadas.A UFPel, quefez as três primeiras fases do inquérito no País – considerado o maior do mundo na época –
, precisou buscar por outras fontes de financiamento e publicou, com um atraso de dois meses, a quarta fase da pesquisa.Apesar de ter conseguido angariar os fundos, o reitor da universidade lamenta o período de apagão de monitoramento nos meses em que a média diária de mortes estava em cerca de mil pessoas.
[veja mais abaixo]Com o encerramento do contrato, que foi firmado na gestão do ministro Luis Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde alegou que planejava trabalhar com a base de dados da PNAD COVID-19, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios feita pelo IBGE, para medir os impactos da pandemia na renda, emprego, moradia e saúde da população.
“O Ministério da Saúde está trabalhando em conjunto com o IBGE para que seja realizado, a partir da amostra da PNAD COVID-19, um inquérito de soroprevalência de COVID-19 com o objetivo de estimar a prevalência da infecção pelos vírus SARS-CoV2 em residentes das capitais, unidades federadas e regiões do país”, diz a pasta.
O IBGE afirma que “não tem nenhuma informação” sobre a suposta parceria planejada. Além disso, o órgão confirma que a PNAD COVID-19 continuará por telefone. Isso impediria a aplicação de testes para identificar a porcentagem da população que foi ou não infectada pelo vírus – o cerne do inquérito sorológico.
Fontes ouvidas porCartaCapitalafirmam que, quando o governo mencionou a parceria, a notícia gerou apreensão dentro do IBGE por não vir acompanhada de mais detalhes sobre possíveis protocolos de segurança para os entrevistadores.
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Os órgãos chegaram a trabalhar em conjunto para a elaboração da Pesquisa Nacional de Saúde, publicada em 2013. Para a efetividade da pesquisa, porém, foram publicadas portarias para especificar como os entrevistadores seriam treinados a fim de obter as informações corretas com a população.
Nosquestionamentos da PNAD COVID-19, são listadas onze perguntas que dizem respeito ao coronavírus. Entre elas, aborda-se sintomas comuns da Covid-19 e o caminho do cidadão pelo sistema de saúde – se ele procurou atendimento médico e fez testes para o coronavírus, por exemplo.
Mesmo com a confiança no IBGE, um dos órgãos públicos mais respeitados em pesquisas do País, o epidemiologista Eliseu Waldman afirma que a realização de testes sorológicos é imprescindível para detectar aqueles que não sabem se foram contaminados com o coronavírus, já que os que sabem estão contemplados nas estatísticas oficiais das secretarias de Saúde.
“O inquérito historicamente pega os indivíduos que tiveram contato [com o vírus] independente de uma manifestação clínica. Esse é só mais um marcador da falta de integração [do Ministério da Saúde], porque eles não assumiram o papel de Ministério, que era coordenar todo o enfrentamento da pandemia com os estados e municípios. Quando isso não existe, cada estado e município faz o que quer”, analisa Waldman.
UFPel continuou estudo, mas com buraco de dois mesesDepois que o governo não manifestou interesse em continuar com o grupo de pesquisa da UFPel, a universidade foi buscar outros meios de financiamento. Conseguiu com o grupo Saúde para Todos, ligado ao Itaú Unibanco, e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp).
Na segunda-feira 14, os pesquisadores publicaram a quarta fase da EPICOVID19, cujo resultado mostra uma desaceleração da epidemia na maior parte do Brasil. O inquérito entrevistou e testou 33.250 participantes de 133 cidades, e foi conduzido entre os dias 27 e 30 de agosto.
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Pedro Hallal, reitor da UFPel, explica que a intenção da pesquisa sempre foi “estimar a proporção da população infectada pelo coronavírus em cada momento da coleta de dados” sem contar com as estatísticas oficiais, consideradas incompletas.
“A gente sempre teve o interesse de avaliar a evolução da infecção como se fosse uma sequência de fotografias ao longo do tempo. Mas, desde a terceira fase da pesquisa ainda no mês de junho, o Ministério não fez outros movimentos de inquéritos sorológicos de âmbito nacional. A gente lamenta muito, é uma decisão completamente equivocada. Isso faz com que o governo siga avaliando a pandemia com base nas estatísticas oficiais, que têm bastante limitações”, analisa Hallal.
O reitor ainda afirma que a conversa de estabelecer uma parceria com o IBGE foi abordada em março, quando começaram as negociações para as três primeiras fases do levantamento. No entanto, a ideia foi descartada. “Naquele momento, se pactuou entre o Ministério e o IBGE que era melhor fazer uma pesquisa nova com outra base amostral”, relembra.
Hallal ainda mantém os esforços para seguir com a EPICOVID19 ativa até depois de uma vacina, esperada por muitos para o ano que vem, e continua com a pesquisa estadual no Rio Grande do Sul, que avança para a oitava fase.No âmbito nacional, Pedro Hallal diz se preocupar com o fato do alto escalão da pasta de Saúde “não entender muito bem o que fazer com os dados” e acredita que, nas condições ideais, a vacina não pode interromper o monitoramento da Covid-19 na população, e sim fazer parte da estratégia de imunização dos brasileiros.
“Quando tiver a vacina, será super importante fazer pesquisa sorológica pra saber se a vacina conferiu imunidade, e a quantidade de anticorpos que as pessoas produziram. É uma lástima que não tenhamos inquéritos liderados pelo Ministério”, diz.
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