Entrar no Centro de Artesanato de Teresina pela porta principal permite um leve recuo ao passado. Ao se deparar com a obra Megabiodiversidade na qual estão retratados animais da Megafauna, cujos fósseis já foram encontrados, dispostos em esculturas feitas em ferro, seguindo uma escala de tamanho natural, é reconhecer que antes das últimas glaciações tínhamos uma fauna bem diferente do que existe hoje.
As preguiças-gigantes, também conhecidas como preguiças-terrícolas, foram mamíferos pré-históricos que habitaram as Américas durante o período Oligoceno até o final do Pleistoceno, há cerca de 10 mil anos. Esses animais pertenciam à superordem Xenarthra, a mesma das preguiças atuais, mas diferiam significativamente em tamanho e hábitos.
O grupo das preguiças-gigantes era composto por seis famílias e 88 gêneros distintos, todos extintos. Inicialmente, as espécies eram de tamanho comparável às preguiças modernas, mas, ao longo do tempo, evoluíram para formas gigantescas. Algumas, como o Megatherium americanum , podiam atingir até 6 metros de altura quando em pé e pesar cerca de 4 toneladas. Outras espécies notáveis incluem o Eremotherium , encontrado em diversas partes da América do Sul, e o Mylodon , cujos restos bem preservados foram descobertos na Cueva del Milodón, no Chile.
Durante sua viagem a bordo do HMS Beagle, Charles Darwin explorou a região da Patagônia Argentina e fez descobertas paleontológicas significativas. Em Punta Alta, ele encontrou fósseis de grandes mamíferos extintos, incluindo dentes de Megatherium e restos de gliptodontes, tatus gigantes com carapaças robustas. Essas descobertas foram fundamentais para que Darwin começasse a questionar a imutabilidade das espécies, contribuindo para o desenvolvimento da teoria da evolução por seleção natural.
No Brasil, a Serra da Capivara, localizada no Piauí, é um sítio arqueológico e paleontológico de grande importância. Pesquisas na região revelaram a presença de fósseis de várias espécies da megafauna pleistocênica, incluindo preguiças-gigantes como o Eremotherium e o Catonyx cuvieri, representados na escultura Megadiversidade. Esses achados indicam que esses animais habitaram a região até cerca de 5 mil anos atrás, sugerindo uma extinção mais tardia em comparação com outras áreas. A coexistência de humanos e megafauna na Serra da Capivara é evidenciada por artefatos e pinturas rupestres, apontando para interações entre os primeiros habitantes da região e esses gigantes pré-históricos.
Estudos recentes indicam que as preguiças-gigantes coexistiram com os primeiros humanos nas Américas por milhares de anos. Evidências arqueológicas, como marcas de corte em ossos e artefatos feitos a partir de restos desses animais, sugerem que eram caçados e utilizados pelas populações humanas. A extinção das preguiças-gigantes é atribuída a uma combinação de fatores, incluindo mudanças climáticas ao final do Pleistoceno e a pressão da caça humana. A presença prolongada desses animais em regiões como a Serra da Capivara reforça a ideia de que a extinção foi um processo gradual e regionalizado.
As descobertas de fósseis de preguiças-gigantes têm sido fundamentais para a compreensão da evolução dos mamíferos nas Américas e das interações entre humanos e megafauna. Museus e instituições científicas em todo o mundo exibem esqueletos e reconstituições desses animais, permitindo que o público conheça e aprecie a diversidade da vida pré-histórica. Além disso, sítios como a Serra da Capivara continuam a ser fontes valiosas de informação, contribuindo para o conhecimento sobre os primeiros habitantes das Américas e seu ambiente.
Em suma, as preguiças-gigantes representam um capítulo fascinante da história natural, ilustrando a riqueza da megafauna americana e as complexas relações entre espécies extintas e os primeiros seres humanos que habitaram o continente.
Até o próximo post... E quando puder visite a Serra da Capivara, o Museu da Natureza e o Museu do Homem Americano. Passeios imperdíveis.