Notícia

Jornal do Brasil

Gianotti defende o amigo FH

Publicado em 12 julho 1996

Por FABRÍCIO MARQUES
SÃO PAULO — O seminário reunia dentistas e educadores e o assunto era a universidade. Mas como um dos convidados era o filósofo José Arthur Gianotti, amigo e conselheiro do presidente Fernando Henrique, o debate descambou para as mazelas do governo federal, como o socorro aos bancos quebrados. "Se tem dinheiro para o Proer, por que não tem para a educação?", alfinetou alguém. Gianotti tomou as dores do amigo presidente: "O socorro a bancos pode ser antipático, mas os países que deixaram quebrar o sistema financeiro, como a Venezuela, sofreram uma perda de mais de 15% do PIB." Gianotti foi didático: "Se os bancos quebrassem, correríamos o risco de enfrentar um período difícil. Quebrar o sistema financeiro é coisa séria. É preciso ver o que isso significa do ponto de vista social. A arrecadação diminuiria e até as verbas para a educação sofreriam." A presença do professor de filosofia quebrou a modorra dos debates de ontem, na 48a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Paulo. Xingado de "prepotente" por uma voz da platéia, o filósofo devolveu na mesma moeda: "Quem é prepotente? Quem discute, como eu, ou quem grita, como você?" O amigo de Fernando Henrique só fez uma crítica ao governo. Disse que a reforma universitária está demorando muito. "Nada mudou na rotina das universidades, e precisa mudar logo." No mais, disse que concorda com a política do MEC: "A princípio, fui contra as avaliações de final de curso nas universidades. Hoje, acho que é um primeiro passo." Professor de filosofia da USP cassado em 1968 pelo Ato Institucional n° 5, Gianotti também teve que falar do passado. Um jovem estudante provocou: "Quando ouço falar na resistência dos intelectuais à ditadura, tenho inveja e lamento não ter nascido naquela época. Mas quando vejo o que estes mesmos intelectuais estão fazendo hoje, no poder, só posso ter vergonha." Gianotti retrucou: "Ainda bem que você não estava conosco quando apanhávamos da ditadura. Mas o trabalho que fizemos naquela época foi bom, porque permitiu que estivéssemos juntos hoje, discutindo democraticamente as nossas divergências." O filósofo defendeu investimentos na escola fundamental e, no final, permitiu-se uma confissão: "Ainda tenho convicções socialistas profundas", disse. "Não tenho nenhuma ternura pelo capitalismo, mas não temos saída senão conviver com ele."