Poder público desenvolve estratégias que utilizam tecnologias de celular para evitar desastres causados pelo clima.
O verão chegou ao fim, mas as lembranças das chuvas típicas da estação ainda são recentes. Para evitar novos desastres causados pelo excesso de água, algumas prefeituras desenvolveram sistemas de alerta meteorológico por mensagens de texto enviadas para celulares, também conhecidas como SMS. O objetivo das iniciativas é avisar a população, principalmente a parte dela que vive em áreas de risco, sobre a possibilidade de fortes mudanças climáticas e, quando necessário, orientar evacuações.
Em Angra dos Reis, a ação começou em janeiro deste ano, 12 meses após os deslizamentos causados pelo excesso de água. Mais de 50 pessoas faleceram em decorrência das fortes precipitações do fim de dezembro de 2009 e início de janeiro de 2010. Atualmente, prefeitura de Angra desenvolve seu Sistema de Alerta Comunitário, que engloba ações educativas com a população e a instalação de mecanismos de aviso em tempo real.
Líderes das 26 comunidades mais sujeitas a riscos foram treinados e tiveram seus celulares registrados para receberem mensagens com alertas e previsão do tempo. Até agora já foram cadastradas no sistema 1.400 pessoas, entre líderes comunitários, agentes da prefeitura e do governo do estado. A análise das condições climáticas é feita pela Defesa Civil a partir de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O envio das mensagens é feita por meio de um programa de computador.
O sistema deveria ter sido inaugurado em 16 de março, mas sua entrada em funcionamento foi adiada, segundo a assessoria de comunicação da prefeitura, devido às chuvas que caíram na cidade.
A prefeitura do Rio de Janeiro também criou um mecanismo de alerta que conta com apoio de celulares. Dez comunidades, a maioria na zona norte da cidade, já contam com um sistema de alarme instalado pela prefeitura. O objetivo é fechar março com 60 comunidades cadastradas. Por meio do novo sistema, moradores cadastrados e líderes comunitários que receberam telefones celulares do município são alertados sobre mudanças bruscas de tempo e sobre a necessidade de evacuar áreas de risco. Eles, então, poderão acionar sirenes, também doadas pela prefeitura, e assim avisar a todos sobre os riscos. Ao todo, de acordo com o poder público, 1.875 agentes de Saúde e Defesa Civil e 300 líderes comunitários já foram capacitados para atuarem em situações como chuvas, alagamentos, deslizamentos de encosta e risco de desabamentos.
"Vamos ainda capacitar pessoas da própria comunidade para ampliar a rede de informação e para que elas nos ajudem nos dias críticos", afirmou o subsecretário de Defesa Civil do Município, coronel Sérgio Simões, no lançamento do programa.
A Defesa Civil carioca também fechou uma parceria com a Vivo em meados de fevereiro para que os clientes da operadora recebam alertas gratuitamente. A prefeitura acredita que os cadastrados recebam cerca de dez mensagens por mês, dependo das condições climáticas. Para se cadastrar, é preciso enviar torpedo com a mensagem "DCRJ" para o número 4000. A Defesa Civil informou que negocia com outras operadoras a implantação do serviço.
O governo do estado de São Paulo também investiu no serviço, ativo desde dezembro de 2010. O Departamento de Águas e Energia (DAEE) é o responsável pelo cadastro de cidadãos interessados em receber notícias gratuitas sobre chuvas na Grande São Paulo. Só são inscritos moradores de áreas de risco, que recebem oferta do serviço após visita de técnicos do órgão estadual. Até agora, cerca de duas mil pessoas foram cadastradas.
O serviço custa R$ 0,14 por mensagem e R$ 10 milhões já foram investidos na parte tecnológica, entre equipamentos, treinamentos e softwares.
O envio de mensagens faz parte de um sistema de alerta e controle de enchentes lançado em outubro. Ele consiste em um conjunto de radares meteorológicos que detecta a chuva, o momento que ela começa, seu local e ainda faz cálculo de duração. Foram instalados 200 medidores de nível de chuvas e de volume de água nos rios mais problemáticos do estado: Piracicaba, Jaguari, Tietê e Ribeira do Iguape.
Para Marcelo Godoy, diretor da NewTV, empresa especializada em conteúdos móveis, o envio de mensagens de texto via celular é uma iniciativa eficiente e barata que deve ser adota por governantes. "É uma iniciativa de baixo custo, alta capilaridade e excelente retorno. Pode e deve ser adotada por pequenos municípios", afirmou ao Guia das Cidades Digitais. De acordo com ele, um pacote de dez mil mensagens pode custar menos de R$ 2 mil.
Universidades colocam sistemas à disposição dos municípios
Mobilizados pelas fortes chuvas que têm marcado os verões do Sudeste, pesquisadores estão construindo sistemas de alertas que podem ser aproveitados pelo poder público. O sistema utilizado em São Paulo é inspirado em um projeto desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP). Ele detecta a possibilidade de enchentes em várzeas de rios por meio de um sensor de pressão, que fica submerso na água e é conectado por um cabo a um pequeno computador. Este, por sua vez, é acionado quando o nível do rio sobe rapidamente e aciona alerta para a população que mora no entorno, via SMS, e para os sistemas de navegação GPS, de modo a informar que determinadas regiões podem estar alagadas.
"Gostei muito da abordagem desse detector de enchentes desenvolvido pelos pesquisadores brasileiros porque é um sistema baseado em componentes muito simples e baratos e que pode ser implementado em grande escala para minimizar problemas que afetam a população brasileira", afirmou à Agência Fapesp o pesquisador alemão Torsten Braun, que colaborou para a melhoria do sistema.
Já no Rio de Janeiro, cientistas da Universidade Federal Fluminense (UFF) construíram o SMSalva-Vidas. O sistema, construído por alunos da pós-graduação em Ciências da Computação e em Ciências Cardiovasculares e por pesquisadores da Quantum, empresa incubada na universidade, já está à disposição das autoridades.
"O sistema está pronto para ser utilizado e é uma oferta gratuita da UFF ao poder público. Já recebemos contatos de algumas prefeituras e governos estaduais. Estamos abertos às autoridades interessadas", afirmou o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação da UFF, Antônio Cláudio Nóbrega à Agência Faperj. "O custo de treinar e articular o trabalho conjunto de institutos de meteorologia, por exemplo, e da defesa civil seria mínimo diante do desenvolvimento do sistema, que já foi realizado, e dos prejuízos às vidas que poderiam ser evitados".
Como nos demais casos, o sistema permite ao poder público enviar mensagens a moradores de áreas de risco. Ele, no entanto, realiza um trabalho de georeferenciamento que facilita os avisos. Inspirado em uma iniciativa de controle de pacientes diabéticos da rede pública, consiste no cadastramento de endereços e telefones de moradores. A partir daí, é gerado um mapa com marcas das áreas de maior risco. Os habitantes dessas áreas, então, recebem mensagens personalizadas de acordo com o risco ao qual estão sujeitos.
Para pedir o programa, basta entrar em contato com Leonor Faria ou Márcia Dacache, pelo telefone (21) 2629-5098 ou pelos e-mails leonor@proppi.uff.br e mdacache@proppi.uff.br