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Gestão para empreendimentos de manejo de pirarucu (1 notícias)

Publicado em 16 de outubro de 2024

Por Maria Sylvia Macchione Saes, professora da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, e Vanessa Eyng, assessora de comunicação do Giz Brasil

E ntre os dias 26 e 30 de agosto, a comunidade São Francisco da Mangueira recebeu um grupo animado de professoras, professores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), comunitárias e comunitários de quatro associações de setores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e representantes de instituições de assessoria local. O grupo se reuniu para promover trocas sobre conhecimentos e ferramentas de gestão, com foco em melhorar a gestão das associações. “Pensamos o curso a partir das necessidades locais. Fizemos um diagnóstico participativo em junho, junto a esses grupos, para entender quais são as ferramentas mais importantes para a gestão destas associações. Trabalhamos organogramas, relações institucionais, e a confecção de documentos e apresentações”, destaca Elton Pereira Teixeira, professor doutor do curso de Administração, da UEA. Ganhar familiaridade e dialogar sobre esses temas impacta na prática de trabalho dos grupos. “É muito bom estarmos neste curso com os outros setores, a gente aprende muito com o grupo, trocando bastante e aprendendo como trabalham. Isso ajuda a gente a pensar como trabalhar na nossa própria associação e dentro das comunidades do setor. Aprender a fazer um ofício e uma ata, por exemplo, é algo que podemos levar de aprendizado”, comenta Elqueline Silva, da Associação do setor Macopani.

E o aprendizado também vale para as universidades. “Estamos trabalhando sobre a perspectiva da Administração, Economia, Contabilidade e Comunicação, mas adequada à realidade destes grupos. Este é um aprendizado importante para nós, que estamos atuando na academia. Comumente, nossas disciplinas atuam sob a perspectiva de grandes empresas e do setor público, e aqui estamos abrindo uma nova perspectiva para a própria Escola Superior de Ciências Sociais da Universidade Estadual da Amazonas para que também possamos trabalhar a partir da realidade de gestão de empreendimentos de base comunitária”, destaca Elton.

Este momento é parte de um conjunto de atividades. Foi o primeiro módulo, sendo prevista a realização de um segundo em fevereiro de 2025. No intervalo, o grupo de estudantes terá reuniões regulares de acompanhamento, para apoio na implementação do plano de ação que foi construído nesta etapa. “O curso foi um importante incentivo à apropriação de ferramentas participativas para a gestão de associações tanto por parte das lideranças comunitárias, quanto pelos profissionais de ensino envolvidos. Cooperar para o desenvolvimento de formações pelas instituições públicas de ensino junto aos povos indígenas e comunidades tradicionais é um dos nossos principais objetivos. Sabemos o quanto essas formações colaboram com a elaboração de projetos político-pedagógicos mais adequados à essa realidade, visando a ampliação da oferta de mais profissionais formados para atuarem na bioeconomia inclusiva e sustentável”, ressalta Cláudia de Souza, assessora técnica na GIZ Brasil, e coordenadora do Componente de Formação Profissional no projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor

Além dos desafios para promover uma gestão mais eficiente, participativa e transparente, a realidade de trabalhar na Amazônia enfrenta inúmeras pressões. Fazer o manejo do pirarucu ocorrer é uma atividade contínua, que envolve cuidado dos lagos, vigilância, contagem de peixes e a pesca. A cada ano, vem se somando a esse trabalho enfrentar os desafios das mudanças climáticas, como a seca extrema, que dificulta o acesso aos lagos, a retirada do peixe para a evisceração e a logística de transporte. Somar a todos esses esforços melhores e mais adequadas práticas de gestão é fundamental. “Será muito importante voltar para as comunidades, e apresentar o que a gente aprendeu aqui. Fizemos uma linha do tempo, onde a gente busca visualizar quando e como começaram as comunidades. Queremos mostrar para o setor Maiana essa linha do tempo, dialogar com as pessoas mais velhas e complementar a informação. E vimos muitas ferramentas diferentes. Por exemplo, nunca havíamos trabalhado o organograma de nossas associações. Eu volto com um pensamento completamente diferente para o meu setor”, Misaac Almeida Maciel, associado ao Setor Maiana. monitor no manejo do pirarucu e vice-presidente da sua comunidade, Mapurilândia.

É importante destacar que este curso só se tornou possível devido à parceria entre o Grupo de Pesquisa da Bioeconomia da USP, a Fundação José Luiz Egydio Setúbal, a GIZ, e os professores da Universidade do Estado do Amazonas. Foi graças à dedicação impressionante de todos os envolvidos e em particular da GIZ e professores da UEA, que conseguimos elaborar um programa de curso que responde diretamente às necessidades das comunidades que buscamos apoiar. O primeiro módulo já demonstrou o potencial transformador desta iniciativa, integrando os participantes de uma maneira que só reforça o impacto que podemos gerar juntos. A participação ativa e o engajamento que vimos até agora nos deixa muito felizes. Esse é apenas o começo de um processo que, temos certeza, trará resultados transformadores.

O trabalho faz parte do escopo do projeto Bioeconomia Inclusiva na Amazônia: Fortalecimento de Cadeias Produtivas Sustentáveis, coordenado pelo professor Jacques Marcovitch (USP) e Adalberto Val (Inpa) (FAPESP no. 2022/14597-8, e 2020/08886-1 FAPESP/FAPEAM). Este projeto tem o objetivo de identificar oportunidades para aprimorar a qualidade de vida das comunidades no Amazonas e no Pará, por meio da estruturação de cadeias de valor da bioeconomia — com foco em produtos como cacau, açaí, meliponicultura, e pirarucu —, promovendo a interação sustentável entre a natureza, as populações locais e os diversos atores envolvidos ao longo desse processo.

Especificamente, estas ações de formação são executadas pelo projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre MDA e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com recursos do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ). O processo de formação ainda conta com a participação da UEA, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, também com apoio da Fundação José Egídio Setúbal e do Conselho Nacional de Pesquisa.