A interação em pesquisa entre universidades e empresas no Brasil cresceu a uma taxa de 14% ao ano nas últimas três décadas. Os dados correspondem ao crescimento do número de artigos publicados em revistas científicas contendo, entre os autores, pelo menos um pesquisador de universidade e outro de empresa. “Isso é muito positivo e faz cair por terra o mito tão repetido de que não há interação entre universidade e empresa no Brasil. Não só ela existe como tem crescido com consistência nos últimos 30 anos”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, em palestra realizada no “Fórum de Cooperação Universidade e Empresa – Bioenergia”, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O evento reuniu representantes do setor acadêmico e de empresas e teve o intuito de estimular uma agenda de cooperação mútua relativa à inovação, pesquisa e desenvolvimento na cadeia produtiva de Bioenergia, Biomassa e Bioprodutos. Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, disse que um estudo recente mostra que o investimento em pesquisa e em educação superior na agropecuária paulista gera um retorno de 12 a 35 vezes o valor investido. “No caso dos investimentos da FAPESP, essencialmente em pesquisa, o retorno é de 27 vezes.
Eu não conheço nenhuma aplicação que renda igual”, disse Zago. “O entrave maior é o de comunicação e conhecimento entre as partes. No entanto, não são esses os entraves mais citados tradicionalmente. Fala-se muito mais em burocracia e em legislações que envolvem, por exemplo, o tratamento de patentes, registros e transferências de tecnologia. Na minha impressão, eles não têm esse papel tão grande. São histórias contadas durante dezenas de anos e que acabam parecendo verdade. Mas não são”, disse Zago.
Foi destacado ainda que, de acordo com dados da Agência Internacional de Energia, o Brasil compõe com Islândia, Noruega, Suécia e Nova Zelândia os únicos cinco países do mundo industrializado que têm mais de 40% da matriz em energia renovável. Desde 2009, a FAPESP tem um programa de pesquisa em Bioenergia, o BIOEN, pautado pela agenda da sustentabilidade.
Em 10 anos de programa, foram financiados 7.589 contratos de financiamento a pesquisas e bolsas de estudantes e de pesquisadores, somando R$ 755 milhões em pesquisas na área de bioenergia. São 447 cientistas envolvidos, sendo 133 em pequenas empresas pesquisando assuntos relacionados à bioenergia. Nesse contexto, outro ponto abordado é a capacidade das universidades de gerar empresas.
Na Universidade de São Paulo (USP) são 1.900 startups criadas, sendo 800 em bioenergia. “As nossas universidades são boas em criar empresas. Só as empresas-filhas da Unicamp sustentam 30 mil empregos por ano. E faturaram R$ 4,8 bilhões em 2018”, disse Brito Cruz. O Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), voltado a projetos com pequenas empresas, tem 169 empresas apoiadas só no ramo da bioenergia.