O projeto Rede Amazônia Legal de Pesquisa Genômica (Realgene) está prestes a terminar a primeira fase do seqüenciamento do genoma do guaranazeiro (Paullinia cupana).
Mas apesar dos benefícios médicos e econômicos que o mapeamento trará, a primeira etapa é só um quinto do trabalho e ainda depende de recursos para continuar.
Não há como definir que genes importantes foram encontrados, porque a pesquisa não foi concluída. Mas já preparamos tudo para chegar a eles - explica Jorge Porto, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e coordenador regional da Amazônia Ocidental do Realgene.
O trabalho de identificação deve durar dois anos, a contar da captação dos recursos. Com ele, será possível combater mais facilmente pragas que atacam as plantações, cuja produção movimenta R$ 100 milhões por ano.
Mais do que ser um refrigerante popular - cujo mercado consome 70% do guaraná plantado no Brasil - a planta tem grande potencial na indústria farmacêutica.
Sua ingestão estimula o metabolismo e a atividade intelectual. Males como enxaqueca, nevralgias e febres podem ser tratados pelo guaraná. Soma-se um papel diurético, vasodilatador, afrodisíaco e desinfetante dos intestinos.
Tantas vantagens justificam o investimento, até porque o guaraná é um produto tipicamente brasileiro. Esta semana, o governo e a comunidade científica festejaram o mapeamento genético do café, com a identificação de seus 30 mil genes.
Foi construído o maior banco de dados do mundo sobre o grão, que enfrenta a concorrência de variedades de outros países. Mas o projeto do Norte, diferentemente da pesquisa do Sudeste, espera financiamento.
O dinheiro conseguido até agora, R$ 1,5 milhão, veio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Mas os pesquisadores esperavam cinco vezes mais. Como comparação, a Embrapa, que também é parceira do Realgene, informa que foram gastos R$ 6 milhões com o genoma do café.
Recursos que também partiram do Ministério da Agricultura, da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafe).
As dificuldades são muitas, mas o trabalho do Realgene reflete a excelente atuação da pesquisa brasileira.
O Brasil trabalha muito bem em rede, o que não existe em outros países - expõe Porto.
Aliás, desde o seqüenciamento da Xylella (organismo causador de uma praga em frutas cítricas), há quatro anos, o país se projetou por ser muito capacitado no trabalho do genoma.
O projeto resultou da rede nacional criada pelo CNPq, que reunia 25 laboratórios em busca de genomas nacionais.
Agora, seguimos com projetos de genomas regionais. Depois do guaraná, pensamos em mapear o mogno, a castanha-do-pará - afirma Porto, citando duas espécies ameaçadas pela exploração predatória.
O Realgene também visa a capacitar outros órgãos e pessoal do Norte para trabalhar com o genoma. Hoje, só Inpa e universidades federais do Pará e do Amazonas têm recursos para tanto.
(Jornal do Brasil, 13/8)
JC e-mail 2585, de 13 de Agosto de 2004.
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