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Gazeta Mercantil

Genoma é negócio: c. q. d. (1 notícias)

Publicado em 11 de novembro de 2002

Por José Fernando Perez
Um teorema é composto por três partes: hipóteses, tese e demonstração. As hipóteses são o cenário da discussão, sendo tomadas como inquestionáveis neste momento. A tese é a verdade que deve emergir nesse contexto. E a demonstração é a prova de que essa verdade pode ser obtida por meio de argumentação lógica, a partir das premissas descritas nas hipóteses. Ao ser concluída a demonstração, o realizado matemático escreve as letras c. q. d., abreviação da expressão "como queríamos demonstrar". Ao financiar projetos de seqüenciamento genético, por meio de seu programa Genoma, a Fapesp se propunha a demonstrar um teorema. A primeira hipótese era que pesquisas sobre o código genético de seres vivos seriam estratégicas para um país com a biodiversidade, a agricultura, a pecuária e os problemas de saúde pública brasileiros. A segunda hipótese era que haveria necessidade urgente de formar profissionais qualificados para viabilizar a criação de empresas de pesquisa e desenvolvimento em genômica. A tese era que com projetos em genômica seria possível formar um grande número de jovens cientistas, capazes de criar alternativas para investidores que acreditassem na biotecnologia e em projetos voltados para problemas da maior relevência científica e de importância socioeconômica. Da idéia inicial do programa, verbalizada em 1° de maio de 1997, a iniciativa foi cumprindo com sucesso todas as metas estipuladas. O primeiro projeto de seqüenciamento do genoma da Xylella fastidiosa foi concluído com sucesso bem antes do prazo previsto de dois anos. A pesquisa respeitou com folga o limite orçamentário estimado, teve resultados publicados com grande destaque e mereceu a capa, laudatório editorial e analise da revista Nature. O reconhecimento internacional não tem precedentes na história científica do País, não apenas nos meios acadêmicos, mas também na grande imprensa internacional. Jornais e revistas, como The New York Times, The Washington Post, The Economist e Le Figaro, afirmaram que o Brasil deixara de ser apenas o país do samba e do futebol para tornar-se uma nação que incluía a genômica entre seus cartões de visita. Para a plena demonstração do teorema era necessário ainda atingir a última meta: o aparecimento de empresas na área de genômica. E esse gran finale foi finalmente celebrado com a criação da Alellyx Applied Genomics (quase Xylella, ao contrário), a primeira empresa gerada como conseqüência direta da iniciativa em genômica da Fapesp. Investimento ousado da Votorantim Venture, a Alellyx é formada por cinco líderes da rede ONSA e deverá se dedicar à pesquisa e ao desenvolvimento da genômica na agricultura, foco dos primeiros projetos da Fapesp. A empresa contratou 40 cientistas - fato sem precedentes na história econômica do Brasil. Um novo paradigma começa ser criado no País: o da iniciativa privada acreditando e investindo na competência do cientista brasileiro. Saudamos a criação da Alellyx, com o mesmo sentimento de realização de um matemático ao apor as letras c.q.d. ao fim da demonstração de seu teorema. O importante agora é criar alternativas para investidores que acreditam na biotecnologia Diretor cientifico da Fapesp.