Com base na avaliação de proteínas específicas do câncer de mama, teste vai indicar se paciente submetida a cirurgia para retirada do tumor nessa região precisa mesmo receber quimioterapia
O primeiro resultado prático do Genoma do Câncer, coordenado pelo Instituto Ludwig de SP, estará disponível dentro de um ano.
Será um teste para indicar se uma paciente submetida a cirurgia para retirada do tumor de mama precisa mesmo receber quimioterapia.
"Atualmente essa avaliação é feita com base no tamanho do tumor e se ele se espalhou", diz o coordenador do projeto, Andrew Simpson, que proferiu palestra na sexta-feira na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). "Nossa proposta é avaliar proteínas específicas do câncer de mama."
Serão analisadas as proteínas GerbB2 e p53. "Se encontramos as duas, de uma forma alterada, trata-se de um tumor mais agressivo, que pode ter se espalhado. Por isso, a quimioterapia deve ser indicada", explica o pesquisador.
Já a presença de uma ou outra proteína e também a ausência das duas significa que a probabilidade de uma recidiva é muito pequena. O teste, segundo ele, vale para tumores na fase inicial, que não apresentam sinais de metástase.
A GerbB2 e p53, presentes no interior do tumor, aumentam o potencial de crescimento das células cancerígenas. Segundo Simpson, a associação entre a presença da proteína e a reincidência do tumor já está comprovada.
"Agora estamos na fase de interpretação dos resultados do exame." O trabalho é feito em colaboração com o Hospital das Clínicas de SP.
Simpson, que tem origem britânica, diz que está perto de concluir o projeto, ou seja, de definir exatamente o conjunto de genes responsáveis pelo tumor.
"Agora estamos concentrando o trabalho na transição entre gene e proteína", adianta. Ele considera essa fase essencial para a produção de anticorpos que possam resultar no desenvolvimento de novos medicamentos.
Ele estima que os resultados da pesquisa, principalmente relacionados ao câncer de mama, continuarão surgindo por mais cinco anos, com novos diagnósticos e novos tratamentos.
Na sexta-feira, Simpson visitou o laboratório de genoma da UFRPE. Ele considera a equipe qualificada e bem instalada, mas alerta para a necessidade de mais investimentos.
"O grande desafio é continuar investindo o suficiente e procurar empregar a genômica na solução de problemas locais, a exemplo da agricultura", diz o pesquisador, que coordena a Rede Nacional de Projetos Genomas Brasileiros.
A equipe do laboratório da UFPRE participou de dois projetos de seqüenciamento do DNA: o da cana-de-açúcar e o da bactéria Chromobacterium violaceum, que raramente infecta o homem, mas, quando isso ocorre, pode provocar diarréia e infecção generalizada, levando à morte.
O primeiro foi em colaboração com a Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp) e o segundo integrou um consórcio nacional financiado pelo CNPq.
Em dois meses, deverá iniciar um outro projeto, envolvendo a bactéria do gênero Rishobium, que tem a capacidade de fixar nitrogênio no solo de vários ambientes, sendo considerada importante para a fertilidade.
Os pesquisadores querem seqüenciar e estudar os genes do microorganismo associados a essa função. O trabalho será feito em colaboração com a Universidade Estadual de Londrina, a Embrapa-Soja e a Empresa Pernambucana de Pesquisas Agropecuárias (IPA).
"Deverão ser analisados de 10 a 15 mil genes", estima a geneticista Nara Freitas, do Laboratório de Genoma da UFRPE. O projeto deverá terminar em dois anos.
(Jornal do Commercio, 17/8)
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