A Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp) inicia com bois novo projeto de seqüenciamento de genes, agora com mudança de enfoque que poderá levar ao retorno comercial do investimento de modo mais rápido.
É uma nova estratégia, diz o diretor científico da Fapesp, José Fernando Perez.
Em um projeto de 18 meses, que envolverá 20 laboratórios, só uma parte do genoma do boi será seqüenciada
Ao mesmo tempo, será feita a análise das funções do material genético. Em outros projetos, a seqüência era concluída antes do estudo funcional.
Seqüenciar significa descobrir a ordem das letras químicas A, T, C e G do DNA (ácido desoxirribonucléico). A seqüência deve servir de base ao estudo da função dos genes (unidades do código genético) mais ativos.
O projeto Genoma Funcional do Boi foi anunciado ontem em SP. Tem custo de US$ 1 milhão, que será dividido entre a Fapesp e a Central Bela Vista Genética Bovina, empresa que lida com sêmen e embriões bovinos, sediada em Pardinho (234 km a oeste de SP).
Esse é o caminho, disse o governador do Estado, Geraldo Alckmin, comentando a parceria entre o Estado e uma empresa privada. Também porque os recursos públicos não são ilimitados.
PATENTES
O objetivo é, depois de 18 meses, ter informação suficiente para embasar pedidos de patente, segundo o coordenador do projeto, Luiz Coutinho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba (162 km a noroeste da capital paulista).
Em seis a sete meses terminaremos o seqüenciamento. Em mais um ano agregaremos informação sobre função. Mas, antes do final dos 18 meses, já pretendemos usar a informação em programas de melhoramento genético, afirma Coutinho.
O Brasil tem hoje o maior rebanho bovino do mundo (170 milhões de cabeças). Mas é apenas o terceiro maior exportador de carne, atrás da Austrália e dos EUA.
Apesar de a raça mais utilizada no país, a nelore, estar bem adaptada, o criador tem de gastar muito com insumos, como carrapaticidas.
A descoberta de genes ligados a resistência a parasitas poderia economizar milhões de reais.
A criação de gado no país tem vários gargalos a serem superados, afirma o presidente da Central Bela Vista, Jovelino Mineiro.
Os 20 laboratórios envolvidos no projeto representam aproximadamente um terço da rede estadual de seqüenciamento Onsa (sigla em inglês para Organização para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos).
A rede foi criada em 97 para realizar o primeiro seqüenciamento de um organismo no Brasil, o da bactéria Xylella fastidiosa, causadora da doença do amarelinho nos laranjais.
O artigo científico descrevendo a seqüência, a primeira de um parasita de plantas, foi publicado na revista científica britânica Nature em 13 de julho de 2000.
Em seguida foram iniciados outros projetos de seqüenciamento e a análise funcional do genoma da Xylella. Até agora, eles não resultaram em nenhum produto novo para o mercado. (Folha de SP, 8/5)
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