Na última década, cada vez mais pesquisadores brasileiros ganharam destaque na comunidade científica internacional. Em todas as áreas do conhecimento, homens e mulheres nascidos aqui - e, mais importante, que atuam no País - estão contribuindo para a cura de doenças, a criação de novos combustíveis, a busca de fontes alternativas de energia e a exploração de petróleo em áreas nunca antes exploradas. O crescimento da economia tem grande influência nessa revolução. Porém, apesar do otimismo, é preciso conter a euforia e investir no básico: a educação.
Embora o atraso ainda seja enorme, os números dão uma boa ideia da evolução da nossa produção científica. Entre 1997 e 2007, o número de artigos brasileiros em revistas especializadas mais do que dobrou. Somos o 13º país em publicações, ultrapassando nações ricas como Holanda e Suíça. As universidades daqui formaram em 2010 o dobro de doutores de 2001. Milhares de empregos foram gerados com a criação de 134 novos campi federais.
Um dos combustíveis para o avanço da ciência brasileira é o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, que saltou para R$ 7,6 bilhões em 2010 - em 2003, foi de R$ 2,6 bilhões. A expectativa para 2020 é de que possamos dobrar ou triplicar o número de estudantes e artigos científicos e nos colocarmos no top ten mundial. A maior parte dessa produção, no entanto, ainda está restrita ao Sudeste do País. Só a Universidade de São Paulo responde por quase um quarto de todas as publicações de artigos em revistas científicas. Os paulistas, ainda, dedicam uma fração fixa do orçamento estadual (0,5%) para a Fapesp (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Para tentar corrigir tal disparidade, o governo federal tem construído mais universidades e destinado 30% dos fundos de pesquisa para Estados do Nordeste e Centro-Oeste.
Foco no Norte e no Nordeste
Os resultados já começam a aparecer. O Instituto Internacional de Neurociências de Natal, fundado em 2003 pelos neurobiólogos Miguel Nicolelis e Sidarta Ribeiro, é um oásis de conhecimento no Rio Grande do Norte. Nicolelis é o cientista brasileiro mais famoso no Exterior. Suas pesquisas, realizadas na Universidade Duke (EUA), garantiram prêmios internacionais e criam expectativas de que ele possa ser o primeiro cidadão do País a ganhar o Nobel. Seus estudos já comprovaram que é possível mover pernas mecânicas por meio de sensores no cérebro - o que pode fazer paraplégicos voltar a andar.
Mais acima no mapa, porém, o maior laboratório do mundo segue subaproveitado. A Amazônia, que corresponde a 49% do território nacional e com potencial para inúmeras descobertas em novas espécies animais e vegetais, clima e medicamentos, é o lar de meros três mil doutores. Conhecer melhor a maior floresta tropical do mundo é primordial para preservá-la. A melhoria das técnicas de agricultura e pecuária - atividades que mais degradam a biodiversidade junto com a extração ilegal de madeira - depende de pesquisas. Ainda assim, a maior parte dos estudos sobre a região não tem um autor brasileiro.
Outra de nossas deficiências é o baixo número de patentes. "O ensino se mantém distante do setor produtivo", afirma José Goldemberg, ex-ministro e professor da USP. Ele cita dados de um recente levantamento do IBGE. Num universo de 106 mil indústrias, o estudo identificou apenas cinco mil que desenvolvem pesquisas a fim de criar novas tecnologias. Mas o quadro deve mudar. "O pré-sal será para o Brasil o que foi o programa espacial para os EUA", afirma Aquilino Senra, vice-diretor da Coppe, pós-graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele cita novas tecnologias em comunicação, materiais, e geração de energia, entre outras, que serão criadas graças à demanda que a exploração em águas profundas vai gerar. "Mas é preciso olhar além do petróleo", alerta Segen Estefen, diretor de tecnologia e inovação da Coppe. A exploração da camada pré-sal deve durar cerca de 25 anos. Por isso, deve-se encarar esse período não como um fim, e sim, uma oportunidade.
A demanda está na mesa. Com ela, a pesquisa deve aumentar, embora ainda seja preciso melhorar consideravelmente a formação dos profissionais. O que falta, então? "O País precisa de políticas públicas que estimulem a inovação", diz Goldemberg. "Quando houve a lei dos medicamentos genéricos, em 1999, os laboratórios nacionais tiveram o campo ampliado", lembra. "É de mais ações assim que precisamos."
ILHA DO FUNDÃO: NOSSO VALE DO SILÍCIO?
Além de abrigar o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Ilha do Fundão é considerada o futuro Vale do Silício brasileiro. A comparação com a região da Califórnia, célebre por concentrar gigantes da tecnologia como Apple e HP, justifi ca-se. Afi nal, lá está um dos melhores centros de pós-graduação em engenharia do mundo, a Coppe, da UFRJ. Em outubro, a Petrobras ampliou seu centro de pesquisas na região a um custo estimado de US$ 700 milhões. Foram instalados laboratórios de biotecnologia, meio ambiente, gás e energia.