A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) já está estudando quais serão os tipos de câncer e os grupos de pacientes que irá acompanhar. O projeto é o Genoma Clínico e faz parte de um esforço mundial para conhecer melhor o corpo humano, permitindo a cura de doenças graves.
"Nossos cientistas monitorarão ò desenvolvimento de casos de câncer com a coleta de informações genéticas de pacientes", explica o diretor-científico da fundação, José Fernando Perez.
As pesquisas devem começar em fevereiro. "Vamos ajudar a melhorar a prevenção, o tratamento e o desenvolvimento de remédios que curem a doença."
O projeto é possível porque os cientistas brasileiros já colocaram em ordem mais de um milhão de pedaços de genes dos tumores mais freqüentes no País. O trabalho elevou a posição do Brasil na comunidade científica internacional. Na área de identificação de genes humanos, os pesquisadores brasileiros estão atrás apenas dos americanos.
Além do Genoma Clínico, a Fapesp está iniciando o projeto Transcriptoma Humano, que identifica outros genes humanos. "Só 3% do genoma humano possuem informações úteis. Vamos descobrir onde estão."
Com isso, cientistas e médicos vão conhecer melhor a formação e o desenvolvimento do corpo e tratar mais doenças. "Esta é a parte mais complicada. É a fase prática da genética."
Os avanços da pesquisa científica no Estado e os próximos objetivos foram anunciados ontem pelo governador Mário Covas. Ele lembrou que o Brasil também é líder internacional no seqüenciamento de pragas vegetais e que o maior projeto acadêmico do mundo para o seqüenciamento de genes de uma planta foi concluído pela Fapesp com o Genoma da Cana-de-Açúcar.
CANA RESISTENTE
O seqüenciamento da cana é mais um que partirá para sua etapa prática. Depois da identificação de mais de 80 mil genes da planta, o projeto deverá permitir, em dois anos, que seja produzida, pelo menos em laboratório, uma cana mais resistente a pragas e à seca. "Queremos ter uma planta mais forte, adequada ao clima e ao solo de cada região", explica Perez. Essa nova fase terá metade dos seus gastos pagos pela iniciativa privada.
Também foi anunciado ontem o fim do seqüenciamento da Xanthomonas citri e a fase final da organização genética da Xanthomonas campestris, duas bactérias que provocam um prejuízo anual de R$ 110 milhões nos laranjais do Estado. "Agora somos o País do samba, do futebol e da genômica", comemora Perez.
COMO SE DESCOBRE UM GENE
- No ano passado, o DNA - o arquivo que define as características físicas de cada indivíduo - foi colocado em ordem em laboratórios de todo o mundo, formando o genoma humano.
- De todo o genoma, apenas 3% possuem informações, que definem da cor dos olhos até as doenças congênitas. São os genes.
- Neste ano, os cientistas brasileiros irão descobrir o que é gene e o que não é.
- A partir daí será possível definir a função dos genes, entender melhor doenças como o câncer e buscar novos tratamentos.
Notícia
Jornal da Tarde