No workshop do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia - Bioen de agosto, John Regalbuto, da National Science Foundation - NSF contou que uma gasolina produzida a partir de açúcares derivados da biomassa deverá estar no mercado dentro de cinco a sete anos, como alternativa complementar ao etanol.
O evento reuniu cientistas do Brasil, Estados Unidos e Argentina com o objetivo de diagnosticar problemas na produção de bioenergia e orientar investimentos de agências de fomento à ciência e tecnologia na busca de soluções em áreas-chave.
Segundo Regalbuto, o processo de produção da nova gasolina se baseia em submeter uma pasta aquosa de açúcares e carboidratos vegetais a materiais catalisadores, que aceleram as reações sem se desgastar no processo. Com isso, as moléculas ricas em carbono da biomassa se separam em componentes que se recombinam para formar os mesmos compostos químicos que são obtidos do processamento do petróleo. A principal diferença da tecnologia em relação à produção de etanol é que o etanol é fermentado a partir de plantas em um processo que utiliza enzimas para desencadear as reações, enquanto a nova gasolina utiliza catalisadores.
Esses catalisadores transformam os açúcares presentes na planta em hidrocarbonetos. Se o uso de enzimas permite um processo mais seletivo, dirigido a um tipo específico de moléculas, os catalisadores, por outro lado, podem operar em altas temperaturas que normalmente destruiriam as enzimas - o que permite que as reações sejam mais velozes. Com o processo as moléculas da biomassa, ricas em carbono, separam-se em componentes diferentes que se recombinam para formar os compostos químicos que são normalmente obtidos do processamento do petróleo. Os principais desafios para o desenvolvimento da nova gasolina se referem à escala de produção.
"Para os Estados Unidos, trata-se de um complemento. Temos atualmente toda a infra estrutura voltada para a produção de etanol de milho, que deverá ser usado para ser misturado à gasolina na proporção de 10%.
No entanto, para cumprir a Lei de Segurança Energética, aprovada em 2007 pelo governo norte-americano, será preciso ter à disposição 16 bilhões de galões por ano de derivados de celulose. A partir da lignocelulose, podemos fazer hidrocarbonetos, evitando que tenhamos que ampliar muito a infra estrutura para o processo de refino do etanol", disse.
A mesa "tecnologias em biocombustíveis e suas implicações no uso da água e da terra" teve a participação do diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, do presidente do CNPq, Marco Antonio Zago, de Cynthia Singleton, da NSE e de Ernesto Quiles, do Ministério da Ciência e Tecnologia da Argentina.
Brito Cruz destacou a importância da discussão sobre bio-combustíveis para o Brasil, observando que o país se destaca mundialmente por uma singularidade: é o recordista em uso de energias renováveis - nenhum outro país industrializado tem 46% de toda a energia utilizada com base em fontes renováveis. A média mundial é de 13% e a dos países da OCDE não passa de 6%.