Objetivo foi criar ponte entre ciência e indústria
Agência Indusnet Fiesp, com informações da ABC
Ganhadores do Nobel participaram do evento Diálogo Prêmio Nobel 2024 – Criando nosso futuro juntos com a Ciência, realizado no dia 17 de abril, na Fiesp. O Nobel é a mais prestigiosa premiação do mundo.
O evento foi organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) junto ao Nobel Prize Outreach, braço da Fundação Nobel, e só foi possível graças ao apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O encontro na Fiesp foi uma iniciativa do diretor do Conselho Superior de Inovação (Conic) da Fiesp, Pedro Wongtschowski, que lembrou que ciência e inovação andam sempre juntas.
Os laureados presentes foram: May-Britt Moser, Nobel de Medicina em 2014 por suas descobertas em neurociências, ajudando a avançar significativamente pesquisas sobre cognição espacial humana; Serge Haroche, Nobel de Física em 2012 por desenvolver novos métodos experimentais que permitiram medir e manipular partículas quânticas individuais, algo considerado impossível até então; e David MacMillan, Nobel de Química em 2021 pela criação de catalisadores sustentáveis com diversas aplicações industriais, sobretudo na produção de medicamentos.
Ganhadores do Nobel participaram do evento Diálogo Prêmio Nobel 2024 – Criando nosso futuro juntos com a Ciência, na Fiesp. O Nobel é a mais prestigiosa premiação do mundo. Foto: Everton Amaro/Fiesp
Ganhadores do Nobel participaram do evento Diálogo Prêmio Nobel 2024 – Criando nosso futuro juntos com a Ciência, na Fiesp. O Nobel é a mais prestigiosa premiação do mundo. Foto: Everton Amaro/Fiesp
Criando pontes entre ciência e indústria
A inovação é um dos maiores desafios da ciência brasileira justamente pela falta de interação entre academia e indústria. Superar essa barreira é crucial, como aponta David MacMillan. “O maior problema é conseguir esse diálogo, é muito difícil. Mas, se não houver, sobram apenas cientistas conversando com cientistas. Em Princeton fizemos uma experiência, pegamos todo o campus e levamos para falar com a indústria, em apresentações muito rápidas e abertas, onde cada pesquisador escolhia o que achava mais importante. É surpreendente a quantidade de conexões que acabam surgindo”, disse ele.
“Mas também é preciso vontade por parte da indústria. É fácil demais deixar isso de lado, descartar o que não é útil, mas só com investimento surgem histórias de sucesso. Na Califórnia, por exemplo, está ocorrendo um investimento significativo na educação dos jovens de baixa renda. Isso torna o estado mais forte, a economia mais forte”, completou.
Na mesma linha, Serge Haroche enfatizou a primazia dos investimentos em educação básica, algo que também fez nos encontros na USP e UERJ. “Para formar cientistas é preciso ter uma educação básica de qualidade, não é algo trivial ensinar sobre pensamento crítico. Professores especializados precisam ganhar bem e ter reconhecimento. Esse é o melhor investimento que um país pode fazer”, enfatizou o nobelista.
Para as indústrias, naturalmente, a atenção maior é dada à pesquisa aplicada, a fim de gerar novos produtos e serviços. Ainda assim, uma visão de crescimento a longo prazo pede necessariamente por investimento em pesquisa básica, o ponto inicial de qualquer inovação. “Há uma tendência hoje de gestão científica de cima para baixo. Não pode ser assim, é preciso deixar que os cientistas escolham seus próprios tópicos. O desafio é ter um ambiente que favoreça a ciência que vem de baixo. A descoberta vem, na maior parte das vezes, do inesperado. As tensões geopolíticas empurram os países para trabalhar com grandes projetos, mas considero isso um erro”, avaliou Haroche.
Sobre quais devem ser os temas do futuro, os nobelistas concordaram que não é possível escolher uma área de interesse acima de todas as outras em um mundo que tende cada vez mais à interdisciplinaridade. “Todos os campos vão contribuir. A história tem inúmeros exemplos de ciência básica levando a invenções grandiosas. Se você olhar as predições feitas sobre inovação para o século 21, quase nada se concretizou. Ao mesmo tempo, o que surgiu era inimaginável. Nesse contexto, a única solução é ter ciência em todas as direções. É muito difícil dos tomadores de decisão entenderem isso, é uma questão de curto prazo contra longo prazo”, reforçou Haroche.
May-Britt Moser foi além e reforçou o papel das humanidades. “História, Educação, Filosofia, todos esses tópicos são necessários para nos prepararmos para um futuro que não conhecemos. Para prever o futuro sempre usamos o passado, mesmo entendendo que existe o inesperado. Não podemos nos tornar paranóicos, temer o amanhã, mas é preciso se preparar”.
Foram realizados diversos painéis, entre eles, Tornando a ciência mais inclusiva – Promovendo a diversidade na ciência; O que a ciência precisa da sociedade e o que a sociedade precisa da ciência – Explorando a criatividade.
"A inovação é um dos maiores desafios da ciência brasileira justamente pela falta de interação entre academia e indústria. Superar essa barreira é crucial", disse David MacMillan, um dos laureados com o Nobel. Foto: Everton Amaro/Fiesp
“A inovação é um dos maiores desafios da ciência brasileira justamente pela falta de interação entre academia e indústria. Superar essa barreira é crucial”, disse David MacMillan, um dos laureados com o Nobel. Foto: Everton Amaro/Fiesp